Estratégias de ocupação e resistência de mulheres em conselhos de administração: Enfrentando um segundo nível do teto de vidro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/2318-0722.2024.30.e14733

Palavras-chave:

estudos de gênero, autodeterminação feminina, conselho de administração, dominação masculina

Resumo

Este estudo identificou e analisou as estratégias de resistência e de ocupação adotadas por mulheres para chegarem aos Conselhos de Administração de empresas brasileiras.18 executivas brasileiras foram entrevistadas em uma pesquisa de natureza qualitativa. Os resultados evidenciam que o discurso das entrevistadas é dividido entre as experiências de trabalho pregressas e o tempo nos Conselhos. Quando contam sobre o passado, admitem com mais facilidade situações constrangedoras, preconceitos e assédios vivenciados. Durante o avançar de suas carreiras até a posição executiva, a maior parte precisou se valer das estratégias de adaptação tão presentes na literatura sobre carreiras femininas, como utilizar vestes específicas para evitar abordagens inadequadas, masculinizar seus comportamentos e ressaltar características valorizadas pelos homens. Entretanto, a necessidade de adaptação ao padrão masculino tem perdido força, porque acreditam que os tempos mudaram e o enfrentamento do preconceito de gênero não é mais o mesmo. Todavia, a visão de mudança radical é colocada em xeque por depoimentos que demonstram violências simbólicas vividas pelas conselheiras. Sendo os Conselhos a instância mentora do processo estratégico de uma empresa, analisar a trajetória de quem passou pelos espaços anteriores até chegar ao topo permite colocar luz para quem vem em seguida, tanto nas barreiras quanto nas estratégias para transpô-las.

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Biografia do Autor

Michele Menezes Pinheiro, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Mestre em Administração de Empresas pela PUC Minas, onde pesquisou sobre carreiras femininas. Profissional com sólida experiência nas áreas de comunicação e recursos humanos. Liderou projetos em diversas disciplinas como: assessoria de imprensa, relacionamento com stakeholders, gestão de crises, comunicação integrada, voluntariado corporativo, diversidade, equidade e inclusão.

Carolina Maria Mota Santos, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Professora do PPGA - Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas. Doutora em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais / Fundação Dom Cabral (2007). Pós-graduada em Docência do Ensino Superior (2001) e Especialização em Novas Tecnologias em Educação e Treinamento (2002). Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2000).

Antônio Moreira de Carvalho Neto, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Professor do PPGA - Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas desde 2001. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ desde 2012. Doutor em Administração pela UFMG (1999), com doutorado sanduíche no Instituto de Economia da UFRJ e no IUPERJ. Mestre em Administração pela UFMG (1995). Especialista em Relações de Trabalho pelo Queen Mary College da London School of Economics (1990).

Daniela Martins Diniz, Universidade Federal de São João del-Rei, São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil

Professora da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), vinculada ao Departamento de Ciências Administrativas e Contábeis - DECAC. Professora do Mestrado PROFNIT (Programa Stricto Sensu em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação da UFSJ). Doutora em Administração pela UFMG na linha de 'Gestão e Tecnologias Gerenciais'. Mestre em Administração pela PUC Minas na linha de 'Inovação e Conhecimento'.

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Publicado

28.11.2024

Como Citar

PINHEIRO, M. M.; SANTOS, C. M. M.; CARVALHO NETO, A. M. de; DINIZ, D. M. Estratégias de ocupação e resistência de mulheres em conselhos de administração: Enfrentando um segundo nível do teto de vidro. Revista Ciências Administrativas, [S. l.], v. 30, p. 1–12, 2024. DOI: 10.5020/2318-0722.2024.30.e14733. Disponível em: https://ojs.unifor.br/rca/article/view/14733. Acesso em: 21 mar. 2025.

Edição

Seção

Artigos