Organizações no Antropoceno: Um Diálogo entre as Práticas Organizativas e a Etnografia Multiespécies
DOI:
https://doi.org/10.5020/2318-0722.2023.29.e13681Palavras-chave:
Antropoceno, etnografia, etnografia multiéspecies, práticas organizativas, não-humanosResumo
O objetivo deste artigo teórico é pensarmos como as organizações podem ser compreendias no Antropoceno a partir de práticas organizativas. Propomos um deslocamento ontológico e epistemológico, sendo necessário um olhar crítico e político a cerca do Antropoceno, rompendo com o dualismo entre humanidade e natureza. Para tanto, como forma de diminuir a lacuna teórica presente nas práticas organizativas de Theodore Schatzki, trazemos os animais não-humanos para a discussão. Além disso, propomos que a etnografia multiespécies seja uma metodologia efetiva para mediar a lacuna teórica e metodológica das relações sociais de atores humanos e não-humanos, inclusive, em processos e cotidianos organizacionais. Esse diálogo entre o Antropoceno e as organizações permite pensarmos que as organizações “acontecem” para além do humano, assim como outros organismos também se organizam e possuem lugar nos processos organizativos. Consideramos que a humanidade não faz parte da natureza, mas é natureza, assim como as próprias organizações. Deste modo, práticas organizacionais que sejam centradas no humano acabam por apresentar uma compreensão limitada de nossa realidade social.
Downloads
Referências
Arluke, A., & Sanders, C. R. (1996). Regarding Animals. Philadelphia, PA: Temple University Press.
Baran, B., Rogelberg, S., & Clausen, T. (2016). Routinized killing of animals: going beyond dirty work and prestige to understand the well-being of slaughterhouse workers. Organization, 23(3), 351-369.
Beaujolin, R., Boudès, T., & Raulet-Croset, N. (2020). Interrelated agencies in an animal-centred organisation: the case of hunting with hounds. Culture and Organization, 27(3), 191-208.
Bispo, M. S. Methodological Reflections on Practice-Based Research in Organization Studies. BAR, Braz. Adm. Rev., 12(3), 309-323.
Clifford, J. (2011). A experiência etnográfica. Rio de Janeiro: UFRJ. 320 p.
Crist, E. (2013). On the Poverty of Our Nomenclature. Environmental Humanities, 3 (1), 129-147.
Deleuze, G.; & Guattari, F. (1997). Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol 4. São Paulo: Editora 34.
DeMello, M. (2021). Animals and Society: An Introduction to Human-Animal Studies. New York Chichester, West Sussex: Columbia University Press.
Erickson, B. (2020). Anthropocene futures: Linking colonialism and environmentalism in an age of crisis. Environment and Planning D: Society and Space, 38(1), 111-128.
Fanon, F. (2020). Alienação e Liberdade. Escritos Psiquiátricos. São Paulo: UBU Editora.
Fantinel, L. (2019). A epistemologia multiespécie nas relações entre organização e natureza: notas para discussão das fronteiras entre humanidade e animalidades. In VI Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais, Anais do VI CBEO.
Fantinel, L. (2020). O organizar multiespécie da cidade. In Luiz Alex Silva Saraiva; Ana Sílvia Rocha Ipiranga. (Eds.). História, práticas sociais e gestão das/nas cidades, 297-344.
Feldman, M. S., & Orlikowski, W. J. (2011). Theorizing practice and practicing theory. Organization Science, 22(5), 1240-1253.
Haraway, D. (2008). When species meet. Minneapolis: University of Minnesota Press.
Haraway, D. (2016a). Companions in conversation (with Cary Wolfe). In Haraway, D. (Ed). Manifestly Haraway. 199-299.
Haraway, D. (2016b). Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. Durham; London: Duke University.
Júlio, A. C. (2016). Produzindo o Desfile de uma Escola de Samba: Contribuições da Epistemologia de Schatzki. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, 5(3), 145-161.
Kirksey, S. E. (2020). The Emergence of COVID-19: A Multispecies Story. Anthropology Now, 12(1), 11-16.
Kirksey, S. E., & Helmreich, S. (2010). The emergence of multispecies ethnography. Cultural Anthropology, 25(4), 545-576.
Knight, C., & Sang, K. (2020). ‘At home, he’s a pet, at work he’s a colleague and my right arm’: police dogs and the emerging posthumanist agenda. Culture and Organization, 26(5-6), 355-371.
Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.
Krenak, A. (2021). O amanhã não está à venda. São Paulo: Companhia das Letras.
Law, J., & Lien, M. (2013). Animal architextures. In Harvey, P., Casella, E., Evans, G., Knox, H., McLean, C., Silva, C., Thoburn, N., & Woodward, K. (Eds.) Objects and Materials: A Routledge Companion. Abingdon: Routledge, 329-337.
Lien, M. E., & Pálsson, G. (2019). Ethnography Beyond the Human: The ‘Other-than-Human’ in Ethnographic Work. Ethnos, 86(1), 1-20.
Moore, J. W. (2016). The Rise of Cheap Nature. In Moore, J. W. (Ed). Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Oakland: PM Press, 78-115
O’Doherty, D. P. (2016). Feline politics in organization: The nine lives of Olly the cat. Organization, 23(3), 407-433.
Oliveira, J. S., Ramos, T. G., Bernardo, G., & Rezende, L. (2016). Práticas Organizativas Memórias: um Estudo Sobre uma Organização Artesanal na Cidade de Goiás-GO. Teoria e Prática em Administração, 6(1), 16-40.
Ortner, S. B. (2006). Anthropology and Social Theory. Durham, Duke University Press.
Passos, J. S. L., & Bulgacov, Y. L. M. (2019). Da Filosofia para os Estudos Organizacionais: O Percurso Ontológico de Schatzki na Teoria da Prática Social. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, 13(1), 1-15.
Reckwitz, A. (2002). Toward a Theory of Social Practices: A Development in Culturalist Theorizing. European Journal of Social Theory, 5(2), 243-263.
Santos, L. L. S., & Silveira, R. A. (2015). Por uma epistemologia das práticas organizacionais: a contribuição de Theodore Schatzki. Organizações & Sociedade, 22 (72), 79-98.
Sayers, J., Hamilton, L., & Sang, K. (2019). Organizing animals: Species, gender and power at work. Gender, Work and Organization, 26(3), 239-245.
Schatzki, T. (1996). Social practice: A Wittgensteinian Approach to Human Activity and The Social. Cambridge: Cambridge University.
Schatzki, T. (2002). The Site of The Social: A Philosophical Account of The Constitution of Social Life and Change. Pennsylvania: Pennsylvania State University
Schatzki, T. (2006). On Organizations as They Happen. Organization Studies, 27(12), 1863-1873.
Schatzki, T. (2016). Practice Theory as Flat Ontology. In Spaargaren, G., Weenik, D., & Lamers, M. (Eds.) Practice Theory and Research: Exploring the Dynamics of Social Life. Abingdon: Routledge, 28-42.
Schatzki, T. (2019). Social change in a material world. New York: Routledge.
Simpson, M. (2020). The Anthropocene as colonial discourse. Environment and Planning D: Society and Space, 38(1), 5371.
Smart, A. (2014). Critical perspectives on multispecies ethnography. Critique of Anthropology, 34(1), 3-7.
Tallberg, L., & Jordan, P. J. (2021). Killing Them ‘Softly’ (!): Exploring Work Experiences in Care-Based Animal Dirty Work. Work, Employment and Society, https://doi.org/10.1177/09500170211008715.
Tsing, A. (2012). Unruly Edges: Mushrooms as Companion Species: For Donna Haraway. Environmental Humanities, 1(1), 141-154.
Tsing, A. (2017). Uma ameaça para a ressurgência holocênica é uma ameaça à habitabilidade. In Tsing, A. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. (2019). Brasília: IEB – Mil Folhas, 225-239.
Tureta, C., & Alcadipani, R. (2009). O objeto objeto na análise organizacional: a teoria ator-rede como método de análise da participação dos não-humanos no processo organizativo. Cadernos EBAPE.BR, 7(1), 50-70.
Wels, H. (2020). Multi-species ethnography: methodological training in the field in South Africa. Journal of Organizational Ethnography, 9(3), 343-363.
Wright, C., Nyberg, D., Rickards, L., & Freund, J. (2018). Organizing in the Anthropocene. Organization, 25(4), 455-471.
Wright, K. (2014). Becoming-with. Environmental Humanities, 5 (1), 277-281.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Revista Ciências Administrativas
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Para publicação de trabalhos, os autores deverão assinar a Carta de Direitos Autorais, cujo modelo será enviado aos autores por e-mail, reservando os direitos, até mesmo de tradução, à RCA.
Para os textos que apresentam imagens (fotografias, retratos, obras de artes plásticas, desenhos fotografados, obras fotográficas em geral, mapas, figuras e outros), os autores devem encaminhar para a RCA carta original de autorização da empresa que detém a concessão e o direito de uso da imagem. A carta deve estar em papel timbrado e assinada pelo responsável da empresa, com autorização para o uso e a reprodução das imagens utilizadas no trabalho. O corpo da carta deve conter que a empresa é detentora dos direitos sobre as imagens e que dá direito de reprodução para a RCA. É importante salientar que os autores são responsáveis por eventuais problemas de direitos de reprodução das imagens que compõem o artigo.
A instituição e/ou qualquer dos organismos editoriais desta publicação NÃO SE RESPONSABILIZAM pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seus autores