Um olhar da saúde sobre a violência - doi: 10.5020/18061230.2012.p127
DOI:
https://doi.org/10.5020/2220Palavras-chave:
saúde, violênciaResumo
Violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si mesmo, outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou tenha uma alta probabilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação(1).No Brasil e no mundo, muito se fala sobre violência, a qual está presente de variadas formas no cotidiano das pessoas, quer seja no campo ou na área urbana. As cidades cresceram sem o devido planejamento, o povo migrou e gerou demandas sociais insatisfeitas nos grandes centros, a televisão invadiu os lares e modificou em larga escala o pensar das pessoas, as famílias relaxaram nas normas morais, os governos não oferecem bons exemplos...Assim, a violência se inseriu em todos os aspectos da vida, manifestando-se na economia (exploração do homem pelo homem, coação do Estado, dependência material, discriminação do trabalho da mulher, trabalho infantil, imposições injustas etc.), na política (domínio de um ou vários partidos, totalitarismo, exclusão de cidadãos na tomada de decisões, revolução, guerra e luta armada etc.), na ideologia (implantação de critérios oficiais, proibição do livre pensamento, censura, manipulação da opinião pública, propagandas e matérias de cunho violento), na religião (submissão aos interesses clericais, controle severo do pensamento, proibição de outras crenças e perseguição de “hereges” etc.), na família (exploração da mulher e dos filhos etc.), no ensino (autoritarismo de professores e diretores etc.), no exército (obediência cega aos comandantes etc.), na cultura (exclusão de correntes inovadoras, proibição de edição de obras, burocracias etc.)...(2)Cabe à saúde o trabalho com as pessoas atingidas pela violência, física ou psicológica, em hospitais, ambulatórios, consultórios... E às pesquisas em saúde tabularem os dados estatísticos. Em 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou o primeiro relatório sobre violência e saúde, que realizou uma revisão global sobre o problema da violência (o que é, quem afeta e o como enfrentar), trazendo um olhar aprofundado sobre o tema, que assombra governos de todos os países(3). Desde então, a violência avançou da esfera governamental-social, para sua intersecção com a saúde, seja na resultante representada pelos índices de mortalidade e morbidade ou nos custos que origina a rede pública de cuidado psicológico-médico-hospitalar aos vitimados pela violência, ou ainda, na colaboração de estratégias preventivas.O certo é que a sociedade vem perdendo um referencial e está, ao mesmo tempo, recebendo uma avalanche de informações, nem sempre filtradas. O crime se banalizou tanto na ficção das novelas como na vida das pessoas. Perdem-se as gentilezas no trato e no agir. As pequenas grosserias repetidas vão se tornando grandes demais para quem as recebem diariamente. O hábito faz o vicio, vem a violência física, que é uma covardia, porque se processa sempre do mais forte contra o mais fraco, do homem para a mulher, do poderoso para o humilde, do adulto para a criança, caracterizando as violências interpessoais(4), classificadas em dois âmbitos: o intrafamiliar e o comunitário. A violência intrafamiliar é a que ocorre entre parceiros íntimos e entre membros da família, principalmente no ambiente da casa, mas não unicamente. Inclui várias formas de agressão contra crianças, contra a mulher ou o homem e contra os idosos(4).Muitas formas e níveis de violência se entendem até os pontos mais graves – a incapacidade física e o homicídio. A violência comunitária(4) é definida como aquela que ocorre no ambiente social em geral, entre conhecidos e desconhecidos, representada por violência juvenil, agressões físicas, estupros, ataques sexuais e, inclusive, violência institucional, que ocorre em escolas, locais de trabalho, prisões e asilos(4).Entretanto, a violência significa um vazio do Estado, e como a lei da matéria funciona, quando um espaço está vazio, outro o ocupa – no caso em particular, as organizações criminosas. Surgem as violências coletivas(4), de atos violentos que acontecem nos âmbitos macrosociais, políticos e econômicos, e caracterizam a dominação de grupos e do Estado. Nessa categoria(4), do ponto de vista social, se incluem os crimes cometidos por grupos organizados, atos terroristas, crimes de multidões. No campo político, estão as guerras e os processos de aniquilamento de determinados povos e nações por outros(4).À classificação criada pelo Relatório da OMS (2002) acrescenta-se um tipo de violência denominada violência estrutural(4), que se refere aos processos sociais, políticos e econômicos que reproduzem e cronificam a fome, a miséria e as desigualdades sociais, de gênero, de etnia e mantêm o domínio adultocêntrico sobre crianças e adolescentes.Difícil de ser quantificada, aparentemente, sem sujeitos, a violência estrutural se perpetua nos processos históricos, se repete e se naturaliza na cultura e é responsável por privilégios e formas de dominação. A maioria dos tipos de violência citados anteriormente têm sua base na violência estrutural(4).Hoje se vive sob o medo e com medo não se vive. A vida é para os fortes, para os que nela acreditam e que reagem às intempéries. O cidadão tem medo de circular pelas ruas;de ostentar uma joia; de usar um veículo mais poderoso do que o usual, para não chamar a atenção. As famílias temem a ação de pedófilos contra seus filhos através da internet esentem medo da droga que invadiu não só as Capitais, mas se interiorizou. O Estado Brasileiro descuidou-se das suas fronteiras, a droga entrou e se fixou, fazendo vítimas todos os dias e deixando famílias intranquilas, assustadas, sofrendo e sem ter para onde ir. Tem-se necessidade de uma política pública que proteja os jovens, que recupere os dependentes e que preserve as nossas fronteiras. Quantos jovens tiveram um corte nas suas carreiras! Quantas crianças abandonadas se encontram nas mãos de marginais cometendo crime?Os danos, as lesões, os traumas e as mortes causados por acidentes e violências correspondem a altos custos emocionais e sociais, e com aparatos de segurança pública.Causam prejuízos econômicos por causa dos dias de ausência do trabalho, pelos danos mentais e emocionais incalculáveis que provocam nas vítimas e em suas famílias, e pelos anos de produtividade ou de vida perdidos. Ao sistema de saúde, as consequências da violência, dentre outros aspectos, se evidenciam no aumento de gastos com emergência, assistência e reabilitação, muito mais custosos que a maioria dos procedimentos médicos convencionais(5).A pesquisa é fundamental para o desenvolvimento de programas e políticas de prevenção de violência. É crucial que o setor da saúde envolva a comunidade científica,incluindo Universidades, institutos de pesquisa e conselhos de ciência. Para a obtenção de sucesso, uma abordagem da saúde pública para a prevenção da violência deveria ser conduzida e coordenada por uma “agência líder”, que poderia definir a agenda da prevenção e reforçaria os papéis desempenhados por demais parceiros(6).Na tentativa de colaborar com a prevenção da violência, a Revista Brasileira em Promoção da Saúde apresenta artigos relevantes ao longo dos anos, chamando a atenção de estudantes, profissionais e gestores da saúde, para esta temática tão forte e repleta de dados que entristecem a todos. Porque a paz é da responsabilidade de todos, um direito do cidadão e um dever do Estado.Downloads
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