Inquietações em temas antigos, sempre atuais, sobre saúde
DOI:
https://doi.org/10.5020/2892Resumo
A Revista Brasileira em Promoção da Saúde (RBPS), ao longo de sua trajetória, escreve uma história de evolução, buscando melhorar a qualidade das suas informações. Esse é o objetivo de um veículo de informação científica: cumprir o seu papel de divulgação.Neste número, a RBPS atrai o leitor com assuntos focados na área da nutrição, do exercício físico, da saúde do trabalhador e das doenças transmissíveis, como a hanseníase e a tuberculose. Estas são doenças bem conhecidas na saúde pública, devido à existência, no passado, de programas verticais e ações horizontalizadas, como a implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS) e, mais tarde, do Sistema Único de Saúde (SUS). Outras modificações foram realizadas no sistema de saúde pública, determinadas pela Constituição de 1988(¹).A RBPS também traz, neste número, um artigo sobre a dengue, uma doença infecciosa, febril e aguda, com casos benignos e graves, produzida por um arbovírus do gênero Flavivirus, que, numa convivência espacial endêmica há décadas, apresentou vários anos epidêmicos no Brasil, com quatro sorotipos conhecidos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4(²). A Revista contém, ainda, artigo sobre desconforto osteomuscular, saúde nas penitenciárias, adesão do hipertenso ao tratamento e mulheres com HIV. Portanto, está bem diversificada, com conteúdos relevantes ao meio científico e atraentes aos serviços de saúde.Pinçam-se, neste editorial, dois assuntos para uma reflexão do leitor: a tuberculose e a nutrição.A tuberculose, cujo bacilo foi identificado por Robert Koch em 1882(³) tem sido estudada há décadas no Brasil. O Ministério da Saúde adquiriu uma elogiável experiência em prevenção e controle de doenças transmissíveis. Entretanto, merece questionamento o que se fez com a longa experiência trazida pelo Programa de Prevenção e Controle da Tuberculose. Na década de 1970, houve descentralização e integração aos serviços de saúde estadual e municipal. Depois, ele foi incorporado ao Programa de Saúde da Família e aos Agentes Comunitários de Saúde.É sabido que a doença registrou, entre 2005 e 2010, somente nas capitais brasileiras, em torno de 44.864.500 casos/ano e uma taxa de incidência em torno de59 casos por 100.000 habitantes(4). Em sua retrospectiva histórica, anterior ao SUS, a doença era trabalhada baseada na vigilância epidemiológica, com taxa de incidência calculada, percentual de cura e ações para detectar, notificar, investigar, confirmar e tratar casos, além de reduzir o abandono ao tratamento. Com isso, alcançavam-se bons resultados de cura. Havia uma ação permanente sustentada, organizada e com avaliações sistemáticas nos estados e por região.A tuberculose tem uma história vivida e aprendida na rede básica; tem um passado que deve ser visto e aprimorado, nunca esquecido, para que se possa ficar livre desse mal, não só no Brasil, mas no mundo. Há poucos anos, a Organização Mundial da Saúde, juntamente com participantes de vários países e organizações não governamentais, lançaram o movimento Stop TB(5), o qual pretende atrair a atenção de líderes mundiais para a prevenção, o controle e a cura da doença. Seu plano global mais recente(6) apresenta meta de trabalho de 2011 a 2015. O movimento se iniciouem 2000 com um grande sonho: impedir a propagação da tuberculose pelo mundo, eliminando-a.Ela ocorre de modo desigual entre pobres e ricos, nos diferentes locais urbanos, bairros, favelas e em ambientes socialmente fechados, como os presídios. Também é do conhecimento dos profissionais da área a existência de fatores associados, como infecção pelo HIV, desnutrição e alcoolismo. Mas a condição necessária e indispensável para se adquiri-la é a existência do bacilo em circulação, sensível à luz solar, anaeróbico e com predileção pelos pulmões.A tuberculose terá expansão? Será que aumentarão os casos novos, a incidência nos precários aglomerados urbanos, nas capitais, principalmente as nordestinas? A saúde é o escoadouro de muitos dos complexos problemas e atropelos das políticas públicas, e a RBPS representa os muitos anseios da área na busca pela efetiva melhoria dos serviços.O segundo ponto que se extrai para reflexão deste número da RBPS é a questão do sobrepeso e da obesidade da população brasileira, incluindo adultos jovens, adolescentes e crianças. O Brasil demorou muito a acordar para uma política de educação alimentar(7). A propaganda de merenda escolar nas escolas públicas enfocando o número de refeições/dia como atrativo ao aluno parece ultrapassar a divulgação da qualidade de ensino, que é o objeto primeiro e intransferível das escolas.A alimentação das crianças e dos jovens está em desrespeito às leis nutricionais de quantidade, qualidade, harmonia e adequação dos alimentos(8). É isso que as estatísticas brasileiras exibem(7,9,10). A alimentação inadequada e abusiva forma mau hábito(9) e, posteriormente, vício alimentar. Quando acrescidos do sedentarismo, tão em voga, as consequências recaem na saúde, com o surgimento precoce de doenças crônicas. Está na hora de se rever as políticas públicas e suas estratégias, trazendo da OMS(11) para as Unidades Básicas de Saúde o espaço de prática de exercício físico com profissionais habilitados, combatendo, assim, o peso em excesso, fomentando a formação de hábito saudável e auxiliando na sociabilidade, o que, sem sombras de dúvida, serviria para reduzir a solidão e a depressão do mundo moderno.A saúde é uma constante nos comentários televisivos e na imprensa. O setor da saúde recebe os efeitos dos problemas da escassez de alimentos, da convivência com fatores climáticos, da deficiência política nacional de segurança pública e de combate às drogas, da falta de esporte nas unidades ambulatoriais e de tantos outros problemas com os quais nos deparamos diariamente. Quem se descuida nas ações de promoção da saúde e da prevenção da doença gasta muito mais com tratamento e reabilitação. O tratamento das doenças crônicas tem uma complexidade bem maior do que o das doenças transmissíveis, pois as causas são múltiplas, com mais equipamento de diagnósticos e medicamentos, dos quais o paciente faz uso por períodos prolongados, senão para sempre.A RBPS, antenada com as notícias e com a verdade científica, procura representar as inquietações da área da saúde. E este número, mais uma vez, contempla o desejado. doi:10.5020/18061230.2013.p151Downloads
Referências
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de março de 2013].Disponível em http://www.fomezero.gov.br
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