Tédio e Trabalho nas Organizações: Do mal-estar à ressignificação

Authors

  • Cledinaldo Aparecido Dias Universidade de Brasília
  • Marcus Vinicius Soares Siqueira Universidade de Brasília
  • Bárbara Novaes Medeiros Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v19i2.e9200

Keywords:

tédio, trabalho, mal-estar, ressignificação.

Abstract

Contemplar o sujeito no contexto do trabalho não se limita a uma ação produtivista, exclusivamente como agente de mudança ou de transformação do seu meio, como faz a maioria dos estudos norteadores das ciências econômicas e administrativas. Mais do que isso, envolve a percepção do indivíduo como sujeito do desejo, da realização e da busca, no entanto marcado por perdas, frustrações, inquietações e vazio. Nessa perspectiva, o objetivo deste artigo téorico é analisar, a partir de leitura multifacetada, especialmente em âmbito filosófico e psicossocial, o tédio nas organizações contemporâneas à luz do advento, e quase onipotência e onipresença, da ideologia gerencialista nas organizações. É fundamental conceber o tédio para além do mal-estar, de modo que busca-se discuti-lo como potencial para ressignificações e reflexões, como força mobilizadora do desejo de viver. As reflexões realizadas neste ensaio teórico indicam que não é a fuga ou a ignorância do tédio que libertará o homem do encontro com seu vazio existencial. É a valorização do tédio que permitirá o amadurecimento para que o homem possa ressignificar aquilo que já não traz mais contentamento para a vida.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Cledinaldo Aparecido Dias, Universidade de Brasília

Doutorando em Administração pela Universidade de Brasília. Professor de Administração na Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Estadual de Montes Claros.

Marcus Vinicius Soares Siqueira, Universidade de Brasília

Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Brasília.

Bárbara Novaes Medeiros, Universidade de Brasília

Doutoranda em Administração pela Universidade de Brasília.

References

Alencar, M. C. B., & Merlo, A. R. C. (2018). A saúde em troca da excelência: O sofrimento de atendentes de nutrição de um hospital público acometidos por LER/Dort. Saúde Soc., 27(1), 215-226. https://doi.org/10.1590/s0104-12902018170873

Azizi, N., Liang, M., & Zolfaghari, S. (2013). Modelling human boredom at work: Mathematical formulations and a probabilistic framework. Journal of Manufacturing Technology Management, 24(5), 711–746. Retrived from https://doi.org/10.1108/17410381311327981 .

Bendassolli, P. (2007). RH e Tédio. GV-Executivo, 6(2), 47-51. Retrieved from http://dx.doi.org/10.12660/gvexec.v6n2.2007.34565.

Bendassolli, P. F. (2012). Psicologia do trabalho como psicologia da ação: O aporte das teorias da atividade. Psico, 43(3), 341-349.

Bendassolli, P. F., & Gondim, S. M. (2014). Significados, sentidos e função psicológica do trabalho. Avances em Psicologia Latinoamericana, 32(1), 131-147. https://doi.org/10.12804/apl32.1.2014.09

Béhar, A. H. (2019). Meritocracia enquanto ferramenta da ideologia gerencialista na captura da subjetividade e individualização das relações de trabalho: Uma reflexão crítica. Revista Organizações & Sociedade, 26(89), 249-268, 2019. https://doi.org/10.1590/1984-9260893

Burrell, G. (2013). Prazer, sensualidade e diversão nas organizações. In E. Davel, & S. C. Vergara (Orgs.), Gestão com pessoas e subjetividade (6a ed., pp. 18-33). São Paulo: Atlas.

Camões, L. V. (1997). Amor é fogo que arde sem se ver. São Paulo: Editora Ediouro.

Castro, M. D. R. G. (2014). Tédio e Modernidade em Baudelaire. (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Cummings, M. L., Gao, F., & Thornburg, K. M. (2015). Boredom in the Workplace. Human Factors: The Journal of the Human Factors and Ergonomics Society, 58(2), 279–300. doi:10.1177/0018720815609503.

Elpidorou, A. (2017). The good of boredom. Philosophical Psychology, 31(3), 323-351. doi:10.1080/09515089.2017.1346240

Enriquez, E. (1990). Da horda ao Estado: Psicanálise do vínculo social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Enriquez, E. (1997). A organização em análise. Petrópolis, RJ: Vozes.

Enriquez, E. (2001). Instituições, poder e “desconhecimento”. In J. N. Araújo, & T. C. Carreteiro (Orgs.), Cenários sociais e abordagem clínica (pp. 49-74). Belo Horizonte: Fumec.

Facas, E. P., & Ghizoni, L. D. (2017). Trabalho como estruturante psíquico e sociopolítico em tempos de hipermodernidade. Trabalho (En) Cena, 2(2), 1-2. https://doi.org/10.20873/2526-1487v2n2p1

Feijoo, A. M. L. C., & Dhein, C. F. (2014). Uma compreensão Fenomenológico-Hermenêutica das compulsões na atualidade. Fractal, Rev. Psicol., 26(1), 166-178. doi.org/10.1590/S1984-02922014000100013.

Freitas, M. E. (2000). Contexto social e imaginário organizacional moderno. RAE -Revista de Administração de Empresas, 40(2), 6-15. doi: 10.1590/S0034-75902000000200002.

Fukumitsu, K. O., Hayakawa, J. Y., Kuda, S. E., Musha, E. H., Nascimento, T. C., Oliveira, B. B., … & Vasconcelos, L. P. (2012). Tédio e trabalho na pós-modernidade. Revista da Abordagem Gestáltica, 18(2), 161-167. doi:10.18065 / RAG.2012v18n2.5

Gaulejac, V. (2007). Gestão como doença social: Ideologia, poder gerencialista e fragmentação social (3a ed.). São Paulo: Ideias & Letras.

Gaulejac, V. (2009). Qui est “je”? Paris: Seuil.

Gaulejac, V. (2017). Vivre dans une société paradoxante. Nouvelle revue de psychosociologie, 2(24), 27-40. doi: 10.3917/nrp.024.0027.

Han, T. (2014). How does instant messaging impact boredom in the workplace? (Doctoral Dissertation). Chicago School of Professional Psychology, Chicago, USA.

Johnsen, R. (2016). Boredom and Organization Studies. Organization Studies, 37(10), 1403–1415. doi.org/10.1177/0170840616640849

La Taille, Y. (2009). Formação ética: Do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed.

Liu, Y., & Lu, Z. (2016). The relationship between academic self-efficacy and academic-related boredom. Youth & Society, 49(2), 254–267. doi:10.1177/0044118x14535219.

Londero, R. R. (2017). “Bem vindo à próxima fase”: A cultura do choque e o fim do tédio. Ação e Midiática: Estudos em comunicação, sociedade e cultura, (14), 291-305. https://doi.org/10.5380/2238-0701.2017n14p291-305

Loukidou, L., Loan-Clarke, J., & Daniels, K. (2009). Boredom in the workplace: More than monotonous tasks. International Journal of Management Reviews, 11(4), p.381-405. Retrieved from https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j.1468-2370.2009.00267.x

Luiz, R. de O., Pereira, A. C. L., Silva, F. S., Oliveira, J. L., & Morelli, P. R. (2009). A experiência do tédio na contemporaneidade. Revista de Psicologia da UNESP, 8(2), 141-143.

Mael, F., & Jex, S. (2015). Workplace Boredom. Group & Organization Management, 40(2), 131–159. doi:10.1177/1059601115575148

Marton, S. Z. (2018). A morte como instante da vida. Curitiba: PUCPRESS.

Mendes, A. M. (2018). Desejar, Falar, trabalhar. Porto Alegre: Editora FI.

Minayo, M. C. S., Teixeira, S. M. O., & Martins, J. C. O. (2016). Tédio enquanto circunstância potencializadora de tentativas de suicídio na velhice. Estudos de Psicologia, 21(1), 36-45. doi.org/10.5935/1678-4669.20160005.

Montezi, A. V. (2017). Tédio e inautenticidade nos dias atuais: Uma análise psicanalítica e social. Semina: Ciências Sociais e Humanas, 38(2), 203-214. doi: 10.5433/1679-0383.2017v38n2p203.

Nett, U. E., Goetz, T., & Hall, N. C. (2011). Coping with boredom in school: An experience sampling perspective. Contemporary Educational Psychology, 36(1), 49–59. doi:10.1016/j.cedpsych.2010.10.003.

Nietzsche, F. W. (2001). A Gaia Ciência. São Paulo: Companhia das Letras.

Oliveira, A. A. A. O., & Justo, J. S. (2010). Expressões do tédio na contemporaneidade: Uma análise do romance “Encontro Marcado”, de Fernando Sabino. Revista de Psicologia da UNESP, 9(1), 45-57.

Oxtoby, J., King, R., Sheridan, J., & Obst, P. (2016). Psychometric Analysis of the Multidimensional State Boredom Scale and Its Condensed Versions. Assessment, 25(7), 826–840. https://doi.org/10.1177/1073191116662910.

Pagès, M., Bonetti, M., Gaulejac, V., & Descendre D. (1987). O Poder das Organizações: A dominação das multinacionais sobre os indivíduos. São Paulo: Atlas.

Park, G., Lim, B. C., & Oh, H. S. (2018). Why boredom might not be a bad thing after all. Academy of Management Discoveries. doi:10.5465/amd.2017.0033.

Pascal, B. (2005). Pensamentos (M. Laranjeira, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.

Pereira, G. S. (2017). Matar o tédio, passar o tempo crime e mal-estar na temporalidade. Revista Transgressões: Ciências criminais em debate, 5(2), 3-21. https://doi.org/10.21680/2318-0277.2017v5n2id13009

Perls, F. S. (1979). Escarafunchando Fritz: Dentro e fora da lata de lixo. São Paulo: Summus.

Rodrigues, A. L., Barrichello, A., Bendassolli, P. F., & Oltramari, A. P. (2018). Meaning of work: challenges for the xxi centur Significado do trabalho: Desafios para o século XXI. RAM. Revista de Administração Mackenzie, 19(spe), eRAMP180206. Retrieved from https://dx.doi.org/10.1590/1678-6971/eramp180206.

Rohm, R. H. D., & Lopes, N. F. (2015). O novo sentido do trabalho para o sujeito pós-moderno: Uma abordagem crítica. Cadernos EBAPE.BR, 13(2), 332-345. Retrived from https://dx.doi.org/10.1590/1679-395117179

Santos, A. G., & Traesel, E. S. (2018). Clínica psicodinâmica do trabalho: Sentidos do trabalho para agentes comunitários de saúde. Trabalho (En) Cena, 3(3), 18-33. https://doi.org/10.20873/2526-1487v3n3p18

Schopenhauer, A. (2009). Aforismos para a sabedoria de vida (3a ed., J. Barboza, Trad.). São Paulo: M. Fontes.

Serva, M., & Ferreira, J. L. O. (2006). O fenômeno workaholic na gestão de empresas. Revista de Administração Pública, 40(2),179-200. https://doi.org/10.1590/s0034-76122006000200002

Siqueira, M. (2009). Gestão de pessoas e discurso organizacional. Curitiba: Juruá.

Siqueira, M. V. S., Mendes, A. M. & França, A. (2011). Discurso organizacional e instrumentalização do prazer no trabalho. Anais do III Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, João Pessoa, Paraíba.

Steinmetz, K. F., Schaefer, B. P., & Green, E. L. (2016). Anything but boring: A cultural criminological exploration of boredom. Theoretical Criminology, 21(3), 342–360.doi:10.1177/1362480616652686.

Svendsen, L. Filosofia do tédio. (2006) (M. L. X. A. Borges, Trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

Touraine, A., & Khosrokhavar, F. (2004). A busca de si: Diálogos sobre o sujeito. Rio de Janeiro: Difel.

Van Dusen, W.V. (1977). Wu-wei: Não-mente e o vazio fértil. In F. S. Perls, Isto é Gestalt (pp. 123-131). São Paulo: Summus.

Van Wyk, S.M., De Beer, L.T., Pienaar, J., & Schaufeli, W.B. (2016). The psychometric properties of a workplace boredom scale (DUBS) within the South African context. SA Journal of Industrial Psychology/SA Tydskrif vir Bedryfsielkunde, 42(1), a1326. doi. org/10.4102/sajip.v42i1.132.

Weinberg, A. (2016). When the work is not enough: The sinister stress of boredom. In G. Fink, Stress: Concepts, cognition, emotion, and behavior. London: Elsevier.

Whiteoak, J. W. (2014). Predicting boredom-coping at work. Personnel Review. 43(5), 741-763. doi.org/10.1108/PR-09-2012-0161

Published

2019-08-10

How to Cite

Dias, C. A., Siqueira, M. V. S., & Medeiros, B. N. (2019). Tédio e Trabalho nas Organizações: Do mal-estar à ressignificação. Revista Subjetividades, 19(2), Publicado em: 10/08/2019. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v19i2.e9200

Issue

Section

Dossiê: Ócio e Contemporaneidade

Most read articles by the same author(s)