Crítica Psicossocial e o Afeto da Alegria nas Organizações Contemporâneas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v23i4.e12498

Palavras-chave:

Alegria, Tristeza, Spinoza, Sujeito, Organizações.

Resumo

O contexto social e do trabalho nas organizações hipermodenas é perpassado por mecanismos de dominação psicológica e pela gestão do afetivo, o que pode ser observado nas práticas de recursos humanos que enfatizam um modo de trabalhar com as emoções pautado na subjetividade, fonte de controle e de domínio. Essas relações acabam por comprometer o bem estar dos indivíduos e provocar seu sofrimento físico e psicológico. No controle dos afetos, a alegria tende a ser vinculada, assujeitada e instrumentalizada em um contexto ideológico, no qual o indivíduo é incentivado a desenvolver um amor entusismado com a organização. Este é o cenário em que se desenvolve o presente artigo, na intenção de estabelecer reflexões, de ordem teórica-crítica, em torno da alegria. O objetivo volta-se para compreender a dinâmica da alegria, tanto como afeto de resistência, quanto fonte para o advento do sujeito, especialmente no contexto organizacional, na expectativa de que estas discussões possam referenciar pesquisas empíricas no campo dos Estudos Organizacionais. Contempla-se a alegria como fonte de um combate inteligente e de negação da morte, instrumento que se contrapõe à destrutividade. Reconhece-a também como fonte para o advento do sujeito, um ser não assujeitado, que produz história e não é apenas produzido por ela. É a partir de discussões interdisciplinares do campo dos estudos organizacionais, da psicossociologia crítica e da filosofia, envolvendo significativamente as contribuições de Spinoza, que se pretende colaborar com reflexões quanto às possibilidades de liberdade e emancipação do sujeito na gestão hipermoderna. O estudo possibilitou a compreensão da alegria como potência de resistência capaz de auxiliar na microemancipação do indivíduo ao fazer uso de brechas civilizatórias no ambiente de trabalho. A alegria enquanto afeto potencializador daquele que pretende fazer-se sujeito de sua própria vida, apesar de todos os determinismos sociais e registros psíquicos.

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Biografia do Autor

Marcus Vinicius Soares Siqueira, Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil

Pós-Doutor em Sociologia Clínica pelo Laboratoire de Changement Social - Paris VII. Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Brasília - DF

Bárbara Novaes Medeiros, Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), Brasília, Distrito Federal, Brasil

Doutora em Administração e Professora no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC – DF).

Cledinaldo Aparecido Dias, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais - Brasil

Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Estadual de Montes Claros.

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Publicado

10.07.2023

Como Citar

Siqueira, M. V. S., Medeiros, B. N., & Dias, C. A. (2023). Crítica Psicossocial e o Afeto da Alegria nas Organizações Contemporâneas . Revista Subjetividades, 23(2), 1–12. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v23i4.e12498

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Seção

Estudos Teóricos

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