O Papel da Psicanálise na Desconstrução do Racismo à Brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e9547

Palavras-chave:

psicanálise, racismo, escravização, preconceito, sofrimento psíquico.

Resumo

Retomando aspectos históricos da escravização colonial e imperial referentes ao tráfico negreiro transatlântico e a sua instalação e manutenção em terras brasileiras, realizamos uma análise psicanaliticamente orientada acerca dos efeitos dessa experiência histórica, tanto em termos societários e discursivos, quanto em termos subjetivos e inconscientes. Nosso objetivo é situar a especificidade da lógica do racismo no Brasil, descortinando os mecanismos inconscientes de sua manutenção e os efeitos subjetivos de sua vivência. Destacamos o modo como o racismo à brasileira se estruturou enquanto racismo de marca, com um uso social definido pela associação com a classe e regido pelo ideal de branquitude. Analisamos as figuras da negação que engendram a ambivalência e o velamento da posição racista do brasileiro, buscando elucidar alguns caminhos para sua desconstrução e superação a partir da psicanálise.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Andréa Máris Campos Guerra, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Psicanalista e Professora no Departamento e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora em Teoria Psicanalítica (UFRJ) com Estudos Aprofundados em Rennes 2 (França). Pesquisadora com bolsa de produtividade 2 do CNPq.

Referências

Arreguy, M. E., Coelho, M. B., & Cabral, S. (2018). Racismo, capitalismo e subjetividade: leituras psicanalíticas e filosóficas. Niterói: Eduff.

Belo, F. (2018). Psicanálise e racismo: Interpretações a partir de Quarto de Despejo. Belo Horizonte: Relicário.

Borges, R. (2017). Prefácio. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.). O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 15-29). São Paulo: Perspectiva.

Braga, A. P. M. (2016). Os muitos nomes de Silvana: Contribuições clínico-políticas da psicanálise sobre mulheres negras. (Tese de Doutorado). Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade de São Paulo, SP.

Chalhoub, S. (2011). Visões da liberdade: Uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras.

Chomsky, N. (2018, 18 setembro) (vídeo). Tumatéia entrevista Noam Chomsky. [YouTube]. https://www.youtube.com/watch?time_continue=671&v=ydUb6lXJ_8c

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Costa, J. F. (2003). Violência e psicanálise. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Graal.

Dorigny, M., & Gainot, B. (2017). Atlas das escravidões: Da antiguidade até nossos dias. Petrópolis: Vozes.

Feltran, G. de S. (2011). Fronteiras de tensão: Política e violência nas periferias de São Paulo. São Paulo: Editora Unesp.

Fernandes, F. (1978). A integração do negro na sociedade de classes: No limiar de uma nova era. (Vol. 1). São Paulo: Ática.

Florentino, M., & Góes, J. R. (2017). A paz das senzalas: Famílias escravas e tráfico transatlântico, Rio de Janeiro, C. 1790 - C. 1850. São Paulo: Editora Unesp.

Freud, S. (1976). Psicologia de grupo e a análise do ego. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, (Vol. 18, pp. 89-181). Rio de Janeiro: Imago (Originalmente publicado em 1921)

Freud, S. (1976). A negativa. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, (Vol. 19, pp. 293-301). Rio de Janeiro: Imago (Originalmente publicado em 1925)

Freyre, G. (2006). Casa-grande & senzala. 51ª Ed. São Paulo: Global Editora.

Gonçalves Filho, J. M. (2017). A dominação racista: O passado presente. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise (pp. 143-159). São Paulo: Perspectiva.

Guerra, A. M. C., Silva, A. C. D., & Lima, R. G. (Orgs.) (2019). Juventude: Trauma e segregação. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Guilroy, P. (2000). Against race: Imagining political culture beyond the color line. Cambridge: Harvard University Press.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas [IBGE] (1976). Anuário Estatístico do Brasil – 1976. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_1976.pdf

Kon, N. M., Silva, M. L., & Abud, C. C. (2017) O racismo e o negro no Brasil: Questões para a Psicanálise. São Paulo: Perspectiva.

Lacan, J. (2003). O aturdito. In J. Lacan, Outros escritos (pp. 448-497). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Lacombe, A. J., Silva, E., & Barbosa, F. A. (1988). Rui Barbosa e a queima dos arquivos. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa.

Laurent, E. (2007) O analista cidadão. In E. Laurent, A sociedade do sintoma: A sociedade, hoje (p. 141-150). Rio de Janeiro: Contra Capa.

Lei Eusébio de Queirós. Lei nº 581, de 4 de setembro de 1850. Estabelece medidas para a repressão do tráfico de africanos neste Império. Rio de Janeiro: Na Typographia Nacional. (Colecção das leis do Império do Brasil de 1850, Tomo XI, Parte I).

Lei do Ventre Livre, Lei nº 2.040, de 28 de setembro de 1871. Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daquelles filhos menores e sobre a libertação annual de escravos.... Rio de Janeiro: Typographia Nacional. (Colecção das leis do Império do Brasil de 1871, Tomo XXXI, Parte I).

Lei dos Sexagenários. Lei nº 3.270, de 28 de setembro de 1885 (1885, 28 setembro). Regula a extinção gradual do elemento servil. (Indice dos Actos do Poder Legislativo de 1885, Parte I).

Lei Áurea, Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888. Declara extinta a escravidão no Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. (Colecção das leis do Império do Brazil de 1888, Vol. I, Parte I, Tomo XXXV – Parte II, Tomo LI).

Mattos, H. (2013). Das cores do silêncio: Os significados da liberdade no Sudeste Escravista – Brasil, Século XX. (3ª ed. rev.). Campinas: Editora Unicamp.

Mattos, H., & Abreu, M. (2013). Lugares do tráfico, lugares de memória: Novos quilombos, patrimônio cultural e direito à reparação. In H. Mattos (Org.) Diáspora negra e lugares de memória: A história oculta das propriedades voltadas para o tráfico clandestino de escravos no Brasil imperial. (pp. 107-119). Niterói: EdUFF.

Mendes, L. A. O. (1977). Memória a respeito dos escravos e tráfico da escravatura entre a Costa d’África e o Brazil, apresentada à Real Academia de Ciências de Lisboa, 1793. Porto: Escorpião (Série Cadernos O Homem e a sociedade).

Munanga, K. (2017) As ambiguidades do racismo à brasileira. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 33-44). São Paulo: Perspectiva.

Organização das Nações Unidas, Brasil [ONU]. (11 de agosto, 2014). UNESCO celebra 20 anos do projeto ‘A Rota do Escravo: Lições do Passado, Valores para o Futuro’. https://nacoesunidas.org/unesco-celebra-20-anos-do-projeto-a-rota-do-escravo-licoes-do-passado-valores-para-o-futuro/

Nascimento, A. (2017) O genocídio do negro brasileiro: Processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva.

Nogueira, I. B. (1998). Significações do corpo negro. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, SP.

Nogueira, I. B. (2017). Cor e inconsciente. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 121-126). São Paulo: Perspectiva.

Nogueira, O. (1998). Preconceito de marca: As relações raciais em Itapetininga. São Paulo: Edusp.

Nunes, G. P. de A. (2008). A integração do negro na sociedade de classes: Uma difícil via crucis ainda a caminho da redenção. Cronos, Revista do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da UFRN, 9(1), 247-254.

Pena, S. D. J. (2005). Razões para banir o conceito de raça da medicina brasileira. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 12(1), 321-346. http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v12n2/05.pdf

Rosemberg, F. (2017). Psicanálise e racismo. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 129-141). São Paulo: Perspectiva.

Santos, N. (1983) Tornar-se negro ou as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Graal (Vol. 4, Coleção Tendências).

Schwarcz, L. M. (2017). Raça, cor e linguagem. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 91-120). São Paulo: Perspectiva.

Silva, M. L. da. (2017). Racismo no Brasil: Questões para psicanalistas brasileiros. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 71-89). São Paulo: Perspectiva.

Slenes, R. W. (2011). Na senzala, uma flor: Esperanças e recordações na formação da família escrava – Brasil Sudeste, Século XIX. Campinas: Editora Unicamp.

Souza, J. (2012a). Os batalhadores brasileiros: Nova classe média ou nova classe trabalhadora? 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Souza, J. (2012b). A construção social da subcidadania: Para uma sociologia política da modernidade periférica. 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG.

Vannuchi, M. B. C. C. (2017). A violência nossa de cada dia: O racismo à brasileira. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 59-70). São Paulo: Perspectiva.

Veríssimo, T. C. (2017) O racismo nosso de cada dia e a incidência da recusa no laço social. In N. M. Kon, M. L. Silva, & C. C. Abud (Orgs.), O racismo e o negro no Brasil: Questões para a psicanálise (pp. 233-249). São Paulo: Perspectiva.

Žižek, S. (2014). Violência. São Paulo: Boitempo Editorial.

Downloads

Publicado

28.11.2020

Como Citar

Guerra, A. M. C. (2020). O Papel da Psicanálise na Desconstrução do Racismo à Brasileira. Revista Subjetividades, 20(Esp2), Publicado online: 28/11/2020. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e9547

Edição

Seção

Dossiê: O contemporâneo à luz da psicanálise

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)