Considerações de Estudos Brasileiros para Clínica Psicológica com Pessoas Pretas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v23i1.e13555

Palavras-chave:

clínica psicológica, racismo, preconceito, discriminação social

Resumo

O racismo está presente nas instituições, onde ele faz com que haja negligências na percepção dos males causados pelo preconceito e pela discriminação. A psicologia tem o dever ético de não reproduzir o racismo institucional. Diante disso, por meio de uma revisão integrativa, se investigou quais os aspectos da clínica psicológica com pessoas pretas investigados em pesquisas no contexto brasileiro. Foram selecionados cinco artigos em quatro bases de dados. A análise dos dados ocorreu por meio da análise de conteúdo. Os estudos encontrados, em sua maioria qualitativos, contaram com a participação majoritária de clientes mulheres. Percebeu-se que as demandas apresentadas por clientes pretas perpassam o racismo, por meio de uma visão de inferioridade de si mesmas que se apresenta de diferentes formas (e.g. auto cobrança excessiva, falta de pertencimento). O acolhimento por meio da grupoterapia se mostrou promissor para clientes pretas, sendo o único aspecto de potencialidade de tratamento encontrado nas pesquisas analisadas. Conclui-se serem necessários mais estudos empíricos sobre a clínica com pessoas pretas para que a psicologia continue se afirmando como antirracista.

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Biografia do Autor

Mathias Weiss, Recupperar Clínica Psiquiátrica, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil

Psicólogo. Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Graduado em Psicologia pela Faculdade Meridional (IMED).

Linéia Polli, Constructo Instituição Psicanalítica, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Possui graduação (2013-2017) e mestrado em Psicologia (2019-2021/CAPES) pela Atitus Educação de Passo Fundo/RS. É psicanalista em formação pela Constructo Instituição Psicanalítica de Porto Alegre/RS. É colaboradora do Grupo de Pesquisa Violência, Infância, Adolescência e Atuação das Redes de Proteção e de Atendimento (VIA-Redes), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Atitus. Também é colaboradora do Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas (GPEVVIC), vinculado ao PPGP da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atua como psicóloga clínica no consultório particular e realiza pesquisas com foco em violência contra crianças e adolescentes e a atuação das redes públicas e privadas de proteção. 

Jean Von Hohendorff, Atitus Educação, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil

Professor do Programa de Pós-Graduação Sricto Sensu em Psicologia da Atitus Educação (Passo Fundo), onde coordena o grupo de pesquisa VIA-Redes (Violência, Infância, Adolescência e atuação das Redes de proteção e de atendimento). Conselheiro do Conselho Regional de Psicologia do RS (CRP/07; gestão 2022-2025), sendo presidente da Comissão de Formação. Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da ATITUS Educação. Editor associado da revista Psicologia: Teoria e Pesquisa. Parecerista do Sistema de Avaliação de Práticas Psicológicas Aluízio Lopes de Brito (SAPP), do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) e da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP). Integrante do GT ANPEPP Juventude, Resiliência e Vulnerabilidade. Membro do comitê de gestão colegiada da rede de cuidado e de proteção social das crianças e dos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência de Passo Fundo/RS. Associado do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS). Psicólogo graduado pelas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, Bolsista CNPq), com estágio de doutorado sanduíche na University of Alabama School of Social Work (Bolsista CAPES). Possui estágio de Pós-Doutorado Júnior (Psicologia, Bolsista CNPq) na UFRGS. Desenvolve atividades de pesquisa e extensão com foco em situações de violência contra crianças e adolescentes e na atuação das redes de proteção e de atendimento para crianças e adolescentes em situação de risco, bem como na diversidade sexual e de gênero.

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Publicado

11.04.2023

Como Citar

Weiss, M., Polli, L., & Hohendorff, J. V. (2023). Considerações de Estudos Brasileiros para Clínica Psicológica com Pessoas Pretas. Revista Subjetividades, 23(1), 1–13. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v23i1.e13555

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