Mulheres, medicalização e grupalidade
experiência com gestão autônoma da medicação no Nordeste
DOI:
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v24i1.e13920Palavras-chave:
mulheres; medicalização; saúde mental; atenção básica; sertão.Resumo
O discurso psiquiátrico tem produzido o uso excessivo de psicofármacos, sendo as mulheres as maiores consumidoras na atenção primária à saúde. Quando consideramos o cenário nordestino e sertanejo brasileiro e as questões de gênero, social e culturalmente constituídas nele, este problema desafia o cuidado em saúde mental. Assim, esta pesquisa-intervenção objetivou cartografar a participação de mulheres em sofrimento psíquico medicalizadas, num grupo de Gestão Autônoma de Medicação (GAM), no referido contexto. A pesquisa foi realizada durante 6 meses, em 24 encontros e os dados foram analisados, a partir de fragmentos narrativos de diários cartográficos e de registros de áudio, em três temas: 1. Produção do sofrimento psíquico no corpo das mulheres sertanejas medicalizadas e o silenciamento de mal-estares da condição de mulher-mãe-pobre-doméstica; 2. Experiências dessas mulheres em trabalhos afetivos e sexuais em relação ao seu sofrimento psíquico; e 3. Grupalidade GAM na vida dessas mulheres na produção de coletividade e de reflexões baseadas nos movimentos antimanicomial e sanitário. Concluímos que as relações de gênero são compositoras da medicalização na vida dessas mulheres e a grupalidade constitui espaço co gestivo de resistência, onde as mulheres se reconhecem como sujeitos autônomos em relações de poder e saber em que estão envolvidas.
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