O Impacto das Exigências de Excelência Científica na Saúde de Pesquisadoras PQ/CNPq da Psicologia
DOI:
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i3.e12588Palavras-chave:
gênero, ciência, processo saúde-doença, bolsistas PQ, psicologiaResumo
Objetivou-se discutir os efeitos das exigências da excelência científica na saúde das bolsistas PQ/CNPq da psicologia. Utilizou-se questionário on-line aplicado a uma amostra não probabilística de 85 mulheres, dentre as 204 bolsistas PQ/CNPq cadastradas no sistema e entrevistas remotas com 24 delas. As pesquisadoras identificam processos de adoecimento em razão das exigências do trabalho acadêmico e de pesquisa. Consideram que sustentar a carreira científica em nível de excelência em um contexto machista, patriarcal, desigual e precarizado reverbera negativamente na saúde. As mulheres, diferentemente dos pesquisadores homens, precisam lidar cotidianamente com o sexismo institucionalizado, com a discriminação e as hierarquias de poder nas universidades e instituições de pesquisa. Além disso, com as responsabilidades domésticas e familiares que ainda estão fortemente associadas às mulheres na cultura machista que impregna a sociedade brasileira. Esses fatores as tornam mais vulneráveis ao sofrimento e adoecimento. Percebe-se que as exigências acadêmicas se articulam às desigualdades de gênero, criando um ambiente propício à expansão dos gradientes de vulnerabilidade e intensificação do sofrimento psíquico, bem como de adesão das mulheres à racionalidade individualizante hegemônica que desconecta a produção de adoecimento do gerenciamento da vida e das imposições de gênero.
Downloads
Referências
Araújo, T. M., Pinho, P. S., & Masson, M. L. V. (2019). Trabalho e saúde de professoras e professores no Brasil: Reflexões sobre trajetórias das investigações, avanços e desafios. Cadernos de Saúde Pública, 35(Suppl. 1), e00087318. DOI: 10.1590/0102-311x00087318
Bandeira, L. (2008). A contribuição da crítica feminista à ciência. Revista Estudos Feministas, 16(1), 207-228. DOI: 10.1590/S0104-026X2008000100020
Barros, S. C. V., & Mourão, L. (2019). Desenvolvimento na carreira de bolsistas produtividade: Uma análise de gênero. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 71(2), 68-83. Link
Barros, S. C. V., & Mourão, L. (2020). Trajetória profissional de mulheres cientistas à luz dos estereótipos de gênero. Psicologia em Estudo, 25, e46325. DOI: 10.4025/psicolestud.v25i0.46325
Bellini, D. M. G. (2018). Violência contra mulheres nas universidades: Contribuições da produção científica para sua superação (Scielo e Web of Science 2016 e 2017) [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Carlos]. UFSCar: Repositório Institucional UFSCar. Link
Borsoi, I. C. F., & Pereira, F. S. (2013). Professores do ensino público superior: Produtividade, produtivismo e adoecimento. Universitas Psychologica, 12(4), 1213-1235. Link
Campos, T., Véras, R. M., & Araújo, T. M. (2020). Trabalho docente em universidades públicas brasileiras e adoecimento mental: Uma revisão bibliográfica. Revista Docência do Ensino Superior, 10, 1-19. DOI: 10.35699/2237-5864.2020.15193
Costa, C. F., & Silva, S. M. G. (2019). Novo neoliberalismo acadêmico e o ensino superior no Brasil. REAd, Revista Eletrônica de Administração, 25(3), 6-35. DOI: 10.1590/1413-2311.251.89569
Costa, D. L. (2016). Análise da relação entre saúde mental e trabalho de docentes universitários [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte]. UFRN: Repositório Institucional UFRN. Link
Costa, L. S. T., Gil-Monte, P. R., Possobon, R. F., & Ambrosano, G. M. B. (2013). Prevalência da Síndrome de Burnout em uma amostra de professores universitários brasileiros. Psicologia Reflexão Crítica, 26(4), 636-642. DOI: 10.1590/S0102-79722013000400003
D’Oliveira, A. F. (2019). Invisibilidade e banalização da violência contra as mulheres na universidade: Reconhecer para mudar. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 23, e190650. DOI: 10.1590/interface.190650
Del Priore, M. (2009). Ao sul do corpo. Condição feminina e mentalidade no Brasil Colônia. Unesp.
Fiuza, L. H. S. (2019). Saúde mental de estudantes universitários: “Tecnologias Leves em Saúde” como instrumento de cuidado [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais]. UFMG. Link
Gaskell, G. (2018). Entrevistas individuais e grupais. In M. W. Bauer & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual prático (13ª ed., pp. 64-89). Editora Vozes.
Goulart, M. S. B., & Antunes, J. C. (2020). Professores: Sofrimento mental na universidade pública. Trabalho & Educação, 29(3), 95-112. DOI: 10.35699/2238-037X.2020.21962
Han, B. (2017). Sociedade do cansaço (2ª ed.). Vozes.
Harding, S. (1996). Ciencia y feminismo. Ediciones Morata.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]. (2020). Pesquisa nacional por amostra de domicílios contínua: Outras formas de trabalho 2019. Link
Kastrup, V. (2010). Pesquisar, formar, intervir. In Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (Org.), Anais do XIII Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico em Psicologia - Pesquisa em psicologia: formação, produção e intervenção. (pp. 172-186). Link
Lima, B. S. (2013). O labirinto de cristal: As trajetórias das cientistas na Física. Revista Estudos Feministas, 21(3), 883-903. DOI: 10.1590/S0104-026X2013000300007
Macêdo, S. (2020). Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: Tecendo sentidos. Revista do NUFEN, 12(2), 187-204. Link
Maito, D. C. (2017). Parâmetros teóricos e normativos para o enfrentamento à violência contra as mulheres na Universidade de São Paulo [Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo]. USP: Biblioteca Digital USP. Link
Malpighi, V. C. S., Barreyro, L. A. L., Marigliano, R. X., & Leopoldo, K. (2020). Negritude feminina no Brasil: Uma análise com foco na educação superior e nos quadros executivos empresariais. Revista Psicologia Política, 20(48), 325-338. Link
Martins, R. M. (2007). O indicativo da incidência Burnout em professores do ensino superior: Como prevenir ou remediar? [Dissertação de Mestrado, Universidade do Vale do Itajaí]. UNIVALI: Biblioteca Virtual. Link
Minayo, M. C. S., & Costa, A. P. (2018). Fundamentos teóricos das técnicas de investigação qualitativa. Revista Lusófona de Educação, 40(40). Link
Moura, J. S., Ribeiro, J. C. O. A., Castro Neta, A. A., Nunes, C. P. (2019). A precarização do trabalho docente e o adoecimento mental no contexto neoliberal. Profissão Docente, 19(40), 1-17. DOI: 10.31496/rpd.v19i40.1242
Neme, G. G. S., & Limongi, J. E. (2020). O trabalho docente e a saúde do professor universitário: Uma revisão sistemática. Hygeia - Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, 16, 1-10. DOI: 10.14393/Hygeia16049861
Oksala, J. (2013). Feminism and neoliberal governmentality. Foucault Stud, 16, 32-53. DOI: 10.22439/fs.v0i16.4116
Oliveira, A. S. D., Pereira, M. S., & Lima, L. M. (2017). Trabalho, produtivismo e adoecimento dos docentes nas universidades públicas brasileiras. Psicologia Escolar e Educacional, 21(3), 609-619. DOI: 10.1590/2175-353920170213111132
Parent in Science. (2020). Produtividade acadêmica durante a pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentalidade. Link
Pinheiro, J. M. (2020). Os discursos do adoecimento no Brasil: Uma problematização do endividamento docente [Tese de Doutorado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos]. Unisinos: Repositório Digital da Biblioteca da Unisinos (RDBU). Link
Rago, M. (2019). “Estar na hora do mundo”: Subjetividade e política em Foucault e nos feminismos. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 23, e180515. DOI: 10.1590/interface.180515
Ribeiro, L. H. (2015). Ambiente sonoro e qualidade de vida vocal de professores universitários [Dissertação de Mestrado, Universidade de Tuiuti do Paraná]. UTP. Link
Rosa, B. S., Barbosa, M. C., Pavani, D. B., Costa, A. B., Nardi, H. C., & Brito, C. (2020). Pesquisa sobre percepção de assédio moral e sexual relativo a gênero na UFRGS. UFRGS. Link
Sanchez, H. M., Sanchez, E. G. M., Barbosa, M. A., Guimarães, E. C., & Porto, C. C. (2019). Impacto da saúde na qualidade de vida e trabalho de docentes universitários de diferentes áreas de conhecimento. Ciência & Saúde Coletiva, 24(11), 4111-4123. DOI: 10.1590/1413-812320182411.28712017
Seabra, M. M. A., & Dutra, F. C. M. S. (2015). Intensificação do trabalho e percepção da saúde em docentes de uma Universidade pública Brasileira. Ciencia & Trabajo, 17(54), 212-218. DOI: 10.4067/S0718-24492015000300010
Souza, K. R., Mendonça, A. L. O., Rodrigues, A. M. S., Felix, E. G., Teixeira, L. R., Santos, M. B. M., & Moura, M. (2017). A nova organização do trabalho na universidade pública: Consequências coletivas da precarização na saúde dos docentes. Ciência & Saúde Coletiva, 22(11), 3667-3676. DOI: 10.1590/1413-812320172211.01192016
Staniscuaski, F., Reichert, F., Werneck, F. P., Oliveira, L., Mello-Carpes, P. B, Soletti, R. C., Almeida, C. I., Zandona, E., Ricachenevsky, F. K., Neumann, A., Schwartz, I. V. D., Tamajasuku, A. S. K., Seixas, A., & Kmetzschan, L. (2020). Impact of COVID-19 on academic mothers. Science, 368(6492), 724. DOI: 10.1126/science.abc2740
Tabak, F. (2002). O Laboratório de Pandora: Estudos sobre a ciência no feminino. Garamond.
Valentova, J. V., Otta, E., Silva, M. L., & McElligott, A. G. (2017). Underrepresentation of women in the senior levels of Brazilian science. PeerJ, 5, e4000. DOI: 10.7717/peerj.4000
Velho, L. (2006). Prefácio. In L. W. Santos, E. Y. Ichikawa, & D. F. Cargano (Orgs.), Ciência, tecnologia e gênero: Desvelando o feminino na construção de conhecimento (pp. 13-18). IAPAR.
Vergès, F. (2020). Um feminismo decolonial. Ubu Editora.
Zanello, V. (2014). A saúde mental sob o viés de gênero: Uma leitura gendrada da epidemiologia, da semiologia e da interpretação diagnóstica. In V. Zanello, & A. P. M. Andrade (Orgs.), Saúde mental e gênero: Diálogos, práticas e interdisciplinaridade (pp. 41-58). Appris.
Zanello, V. (2018). Saúde mental, gênero e dispositivos: Cultura e processos de subjetivação. Appris.
Zanello, V. & Silva, R. M. C. (2012). Saúde mental, gênero e violência estrutural. Revista bioética, 20(2), 267-279. Link
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista Subjetividades
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Para autores: Cada manuscrito deverá ser acompanhado de uma “Carta de submissão” assinada, onde os autores deverão declarar que o trabalho é original e inédito, se responsabilizarão pelos aspectos éticos do trabalho, assim como por sua autoria, assegurando que o material não está tramitando ou foi enviado a outro periódico ou qualquer outro tipo de publicação.
Quando da aprovação do texto, os autores mantêm os direitos autorais do trabalho e concedem à Revista Subjetividades o direito de primeira publicação do trabalho sob uma licença Creative Commons de Atribuição (CC-BY), a qual permite que o trabalho seja compartilhado e adaptado com o reconhecimento da autoria e publicação inicial na Revista Subjetividades.
Os autores têm a possibilidade de firmar acordos contratuais adicionais e separados para a distribuição não exclusiva da versão publicada na Revista Subjetividades (por exemplo, publicá-la em um repositório institucional ou publicá-la em um livro), com o reconhecimento de sua publicação inicial na Revista Subjetividades.
Os autores concedem, ainda, à Revista Subjetividades uma licença não exclusiva para usar o trabalho da seguinte maneira: (1) vender e/ou distribuir o trabalho em cópias impressas ou em formato eletrônico; (2) distribuir partes ou o trabalho como um todo com o objetivo de promover a revista por meio da internet e outras mídias digitais e; (3) gravar e reproduzir o trabalho em qualquer formato, incluindo mídia digital.
Para leitores: Todo o conteúdo da Revista Subjetividades está registrado sob uma licença Creative Commons Atribuição (CC-BY) que permite compartilhar (copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato) e adaptar (remixar, transformar e criar a partir do material para qualquer fim) seu conteúdo, desde que seja reconhecida a autoria do trabalho e que esse foi originalmente publicado na Revista Subjetividades.