Psicanálise e uma Ontologia Política Identitária: Leitura sobre a Expressão “Cultura Negra”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e8916

Palavras-chave:

psicanálise, política, cultura negra.

Resumo

O presente artigo pretende apresentar algumas contribuições da psicanálise para pensar o contexto das minorias, especificamente o tema da cultura negra. O fio da política é apresentado a partir da discussão a respeito da exclusão no espaço social e a consequente segregação. Considerando as ambiguidades caracterizadas pelas relações de igualdade e diferença apresentadas em Hannah Arendt, discutimos como, nessa construção do reconhecimento da diferença em um campo igualitário, encontram-se também mecanismos de domínio, entre eles, o racismo. Em seguida, por meio da leitura foucaultiana, buscamos identificar os dispositivos de poder no tecido social no que se refere à luta das raças, sendo a ideia do corpo atravessado pelo contexto sócio-histórico e cultural um elemento que apresenta o racismo como mecanismo de segregação. Seguindo os passos da discussão sobre diferença e segregação, introduzimos o pensamento de Giorgio Agamben e a dimensão da vida nua enquanto elemento central na política moderna ocidental. Após essa articulação, que buscou abordar o racismo correlato à segregação, passamos à apresentação da construção da cultura negra no contexto brasileiro. Tomamos essas elaborações tanto em sua vertente que tenta recuperar as raízes da matriz africana, passando por aquelas estigmatizantes em relação a um referenciamento ao branco, quanto aquelas denegatórias, que buscam neutralizar as especificidades de tal movimento. Concluímos essas reflexões sugerindo que a questão da identidade negra brasileira deve ser orientada pelo movimento constante de significação e ressignificação. Nessa construção, as questões sobre a relação entre oprimidos e opressores entra em voga, o que nos levou a articular o pensamento de Ernesto Laclau. Por fim, retomamos em Freud e Lacan as construções a respeito da diferença e o mal-estar que produz o encontro do sujeito com a civilização.

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Biografia do Autor

Jacqueline de Oliveira Moreira, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas. Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Mestre em Filosofia pela UFMG. Psicanalista. Bolsista Produtividade CNPq PQ2. Membro do GT da ANPEPP “Psicanálise, Clínica e Política”.

Alessandro Pereira dos Santos, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas, bolsista CAPES. Mestre em Psicologia pela PUC Minas, Especialista em Segurança Pública e Sistema de Justiça Crimanal pela Fundação João Pinheiro, Graduado em Psicologia pela PUC Minas.

Fídias Gomes Siqueira, Universidade Federal de Minas Gerais

Psicanalista. Doutorando em Psicologia (Teoria Psicanalítica), Mestre em Psicologia (Teoria Psicanalítica) pela FAFICH/UFMG, Graduação em Psicologia pela PUC Minas. Pesquisador colaborador e Co-coordenador do Programa de Extensão Já É do Núcleo PSILACS – Psicanálise e Laço Social no Contemporâneo da UFMG.

Ana Carolina Dias Silva, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC Minas, bolsista CAPES. Graduada em Psicologia pela UFMG, com ênfase em Processos Clínicos e Formação Complementar Aberta em Subjetividades Políticas e Territórios.

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Publicado

28.11.2020

Como Citar

Moreira, J. de O., Santos, A. P. dos, Siqueira, F. G., & Silva, A. C. D. (2020). Psicanálise e uma Ontologia Política Identitária: Leitura sobre a Expressão “Cultura Negra”. Revista Subjetividades, 20(Esp2), Publicado online: 28/11/2020. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e8916

Edição

Seção

Dossiê: O contemporâneo à luz da psicanálise

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