Neoliberalismo Escolar: A Educação de Jovens na Atualidade e seus Efeitos Subjetivos

Autores

  • Lorenna Pinheiro Rocha Universidade de Fortaleza (Unifor)
  • Maria Celina Peixoto Lima Universidade de Fortaleza (Unifor)
  • Clara Virgínia de Queiroz Pinheiro Universidade de Fortaleza (Unifor)

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e10544

Palavras-chave:

educação, juventude, psicanálise, neoliberalismo escolar.

Resumo

Na atualidade, presenciamos um nítido esfacelamento dos fundamentos e finalidades da educação, o que vem deixando incerta sua atual função social. Se, um dia, seu papel se centrou numa formação intelectual e cidadã, a partir da transmissão dos valores da cultura e dos referenciais simbólicos da sociedade, tal propósito vem sofrendo profundas transformações com o advento do neoliberalismo escolar, que consiste na migração dos valores econômicos para o campo educacional. Nesse contexto, a escola passa a ser convocada a responder a interesses econômicos, o que se torna evidente ao analisarmos, sobretudo, as propostas pedagógicas voltadas à juventude. Diante desse cenário, o presente trabalho busca discutir as consequências da entrada dos valores econômicos na educação de jovens, atentando para os seus efeitos no sujeito/aluno. Sugerimos, aqui, duas modalidades distintas de sintomas escolares que se presentificam na relação com o saber: as inibições intelectuais e a melancolização. Tais sintomas dão testemunho de um preocupante declínio do sentido do conhecimento, que representa uma das principais mazelas com que a escola precisa lidar na atualidade. Partindo da concepção psicanalítica de que o sentido só se constrói na referência a outro, tal problemática não se resolveria com tentativas de conferir sentidos individuais ao conhecimento, como temos observado nas práticas educativas contemporâneas. Progressivamente, o aspecto coletivizante do conhecimento vem perdendo seu lugar em detrimento de uma compreensão mais individualizada, segundo a qual a educação funciona como instrumento de “modelagem” de competências exigidas pelo mercado de trabalho. Assim, concluímos que a necessidade de se resgatar o caráter coletivizante do conhecimento é urgente; há que se levar em consideração as condições de possibilidade de uma real transmissão no contexto escolar, pois o triunfo de um modelo educacional que se propõe a responder a demandas de eficácia e de inovação encontra seus limites na própria natureza do ato pedagógico.

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Biografia do Autor

Lorenna Pinheiro Rocha, Universidade de Fortaleza (Unifor)

Professora do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. Mestra em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Maria Celina Peixoto Lima, Universidade de Fortaleza (Unifor)

Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. Doutora em Psicologia pela Universidade Paris XIII (França).

Clara Virgínia de Queiroz Pinheiro, Universidade de Fortaleza (Unifor)

Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza. Doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

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Publicado

28.11.2020

Como Citar

Rocha, L. P., Lima, M. C. P., & Pinheiro, C. V. de Q. (2020). Neoliberalismo Escolar: A Educação de Jovens na Atualidade e seus Efeitos Subjetivos. Revista Subjetividades, 20(Esp2), Publicado online: 28/11/2020. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e10544

Edição

Seção

Dossiê: O contemporâneo à luz da psicanálise

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