“Mandados e comandados por alguém”: Processos de Subjetivação formados pela Institucionalização

Autores/as

  • Tâmara Ramalho de Sousa Amorim Universidade Federal da Paraíba
  • Maria de Fatima Pereira Alberto
  • Denise Pereira dos Santos
  • Manuella Castelo Branco Pessoa

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v18i3.6763

Palabras clave:

processo de subjetivação, institucionalização, Código de Menores, Estatuto da Criança e do Adolescente.

Resumen

O presente artigo tem como objetivo analisar os processos de subjetivação de participantes de duas instituições de privação de liberdade no estado da Paraíba – ex-internos de um patronato agrícola contemporâneo ao Código de Menores e educandos de uma unidade de cumprimento de medida socioeducativa de internação criada sob a égide do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) –, a partir da institucionalização vivenciada por eles, identificando mudanças e permanências. De acordo com Foucault, o sujeito se constitui historicamente de diferentes formas através de práticas de poder e jogos de verdade, como a prática da internação em instituições. A institucionalização serve para fixar o sujeito em um sistema normalizador, operando sobre ele um assujeitamento e fabricando corpos dóceis. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 09 participantes, sendo 06 ex-internos do patronato e 03 educandos da unidade de medida socioeducativa, e os dados foram analisados por meio da Análise Crítica do Discurso. Identificaram-se processos de subjetivação – constituídos a partir da vigilância e do controle, de internalização de um discurso institucional e assujeitamentos – e permanências, como as punições incidindo sobre o corpo e um histórico de institucionalização vivenciado em suas juventudes. As mudanças disseram respeito aos motivos pelos quais os jovens foram para a instituição e aos tipos de atos infracionais cometidos, quando foi o caso. Foi possível perceber, a partir do caráter histórico deste estudo e da escuta de ex-internos e educandos, discursos bastante semelhantes proferidos por pessoas que vivenciaram/vivenciam a institucionalização em épocas distintas, sob legislações e contextos diferentes, o que aponta que as mudanças entre o Código de Menores e o ECA têm se dado mais na letra da lei do que na prática de institucionalização dos jovens.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Tâmara Ramalho de Sousa Amorim, Universidade Federal da Paraíba

Maria de Fatima Pereira Alberto

Possui mestrado em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (1991) e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2002). Atualmente é professora Titular da Universidade Federal da Paraíba, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (mestrado e doutorado). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia Social, Infância e Adolescência em Situação de Risco, Subjetividade e Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: infância, adolescência e juventude, situações de risco, trabalho infantil, trabalho precoce, meninos e meninas em condição de rua, direitos humanos, violência sexual e políticas públicas. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento da Infância e Adolescência (NUPEDIA). Representa a UFPB no Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente na Paraíba (FEPETI). Integra o GT Juventude, Resiliência e Vulnerabilidade da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia. Integra também a Red Iberoamericana para la Docencia e Investigación en Derechos de la Infancia (REDIDI).

Denise Pereira dos Santos

Doutoranda em Psicologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba. Atua como Psicóloga efetiva na Secretaria de Educação, no município de João Pessoa - PB. É integrante do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre o Desenvolvimento da Infância e Adolescência - NUPEDIA, ligado ao Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da UFPB. Tem interesse de estudo nos temas trabalho infantil, trabalho juvenil e formação, Psicologia e Políticas Públicas e educação.

Manuella Castelo Branco Pessoa

Graduada em psicologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Mestre em Psicologia e Doutora em Psicologia Social pela UFPB, com estágio na modalidade sanduíche no Instituto de Iberoamérica da Universidade de Salamanca (Espanha). Pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), na linha trabalho, saúde e subjetividade. Vice-lider do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre a Infância e Adolescência (NUPEDIA) e pesquisadora participante do Núcleo Trabalho, Saúde e Subjetividade. Atua nas áreas da psicologia social do trabalho e do desenvolvimento, principalmente com os temas: juventude, formação profissional e trabalho, politicas públicas e trabalho infantil.

Citas

Bazílio, L. C., & Kramer, S. (2011). Infância, educação e direitos humanos. São Paulo: Cortez.

Campos, H. R., & Cavalcante, C. P. (2014). O adolescente e o estatuto jurídico: Transgressão e lei no Brasil. In I. L. Paiva, C. Souza & D. B. Rodrigues (Orgs.), Justiça Juvenil: Teoria e prática no sistema socioeducativo (1. ed., pp. 33-48). Natal: Edufrn.

Castro, A. L. S., & Guareschi, P. (2008). Da privação da dignidade social à privação da liberdade individual. Psicologia e Sociedade, 20(2), 200-207. https://doi.org/10.1590/S0102-71822008000200007

Código de Menores. (1927). Decreto n. º 17.943-A de 12 de outubro de 1927. Brasília. Retrieved from http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/d17943a.htm

Estatuto da Criança e do Adolescente. (1990). Lei n. º 8069 de 13 de julho de 1990. Retrieved from http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm

Figueiró, M. E.S. S., Minchoni, T., & Mello, L. C. A. (2014). Políticas públicas para crianças e adolescentes no Brasil: Um resgate histórico. In I. L. Paiva, C. Souza, & D. B. Rodrigues (Orgs.). Justiça Juvenil: Teoria e prática no sistema socioeducativo (1a ed., pp. 19-32). Natal, RN: Edufrn.

Foucault, M. (2006). Ditos e escritos V: Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Originalmente publicado em 1984).

Foucault, M. (2007). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal. (Originalmente publicado em 1979).

Foucault, M. (2010). Vigiar e punir. Petrópolis, RJ: Vozes. (Originalmente publicado em 1975).

Foucault, M. (2011a). A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau Editora. (Originalmente publicado em 1973).

Foucault, M. (2011b). A Hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 2001).

Foucault, M. (2014). A ordem do discurso: Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola. (Originalmente publicado em 1971).

Gregolin, M. R V. (2004). Michel Foucault: O discurso nas tramas da história. In C.A. Fernandes, & J. B. C. Santos (Orgs), Análise do Discurso: Unidade e dispersão (1a ed., pp. 19-42). Uberlândia, MG: Entremeios.

Gregolin, M. R V. (2006). Foucault e Pêcheux na análise do discurso: Diálogo e duelos. São Calos, SP: Claraluz.

Lei n. ° 12.594 de 18 de janeiro de 2012. Sistema nacional de atendimento socioeducativo – Sinase. (2012). Retrieved from http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/l12594.htm

Malvasi, P. A. (2011). Entre a frieza, o cálculo e “Vida Loka”: Violência e sofrimento no trajeto de um adolescente em cumprimento de medida socioeducativa. Saúde e sociedade, 20(1), 156-170. https://doi.org/10.1590/S0104-12902011000100018

Méndez, E. G. (2008). A dimensão política da responsabilidade penal dos adolescentes na américa latina: Notas para a construção de uma modesta utopia. Educação e Realidade, 33(2), 15-36.

Minayo, M. C. S. (2010). O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec.

Muchail, S. T. (2004). Foucault simplesmente. São Paulo: Edições Loyola.

Nery, M. A. A. M. (2009). Aprendizados e patronatos: Um cotejo entre dois modelos de ensino agrícola das primeiras décadas do século XX (1911-1934). Tempos e Espaços em Educação, 2, 25-32. doi: 10.20952/revtee.v0i0.2201

Oliveira, I. F., & Paiva, I. L. (2013). Os desafios para a articulação entre o sistema de garantia de direitos e o sistema único de assistência social. In L. R. Cruz, L. Rodrigues, & N. M. F. Guareschi (Orgs), Interlocuções entre a psicologia e a Política Nacional de Assistência Social (1a ed., pp. 131-148). Santa Cruz do Sul, RS: EDUNISC.

Oliveira, D. H. D., Félix-Silva, A. V., & Nascimento, M. V. N. (2014). Produção de sentidos nas práticas discursivas de adolescentes privados de liberdade. In I. L. Paiva, C. Souza, & D. B. Rodrigues. Justiça Juvenil: Teoria e prática no sistema socioeducativo (1a ed., pp. 221-246). Natal: Edufrn.

Rizzini, I. (2009). Crianças e menores: Do pátrio poder ao pátrio dever. Um histórico da legislação para a infância no Brasil. In I. Rizzini, & F. Pilotti (Orgs.), A arte de governar crianças. A história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil (2a ed., pp. 97-150). São Paulo: Cortez.

Santos, S. C. C. (2015). Educação e trabalho para meninos desvalidos: Um estudo sobre o patronato agrícola de Bananeiras (1924-1947). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Paraíba, PB.

Scisleski, A. C. C., Bruno, B. S., Galeano, G. B., Santos, S. N., & Silva, J. L. C. (2015). Medida socioeducativa de internação: Estratégia punitiva ou protetiva? Psicologia &Sociedade, 27(3), 505-515. https://doi.org/10.1590/1807-03102015v27n3p505

Vicentim, M. C. G. (2011). Corpos em rebelião e o sofrimento-resistência. Adolescentes em conflito com a lei. Tempo Social, 23(1), 97-113.

Weinmann, A. O. (2006). Dispositivo: Um solo para a subjetivação. Psicologia & Sociedade, 18(3), 16-22. https://doi.org/10.1590/S0102-71822006000300003

Publicado

2019-02-26

Cómo citar

Amorim, T. R. de S., Alberto, M. de F. P., Santos, D. P. dos, & Pessoa, M. C. B. (2019). “Mandados e comandados por alguém”: Processos de Subjetivação formados pela Institucionalização. Revista Subjetividades, 18(3), 51–63. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v18i3.6763

Número

Sección

Relatos de Pesquisa

Artículos más leídos del mismo autor/a