Considerações psicanalíticas sobre as Identidades a partir da Literatura de Mulheres Indígenas
DOI:
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v25i2.e14240Palavras-chave:
mulheres indígenas, literatura, identificação, semblante, teoria psicanalíticaResumo
As aproximações entre a teoria psicanalítica e as literaturas de mulheres indígenas são raras e não respondem aos desafios que se colocam a uma psicanálise forjada em solo brasileiro, incapaz de reconhecer nas especificidades de seu território o inquietante que faz avançar a teoria em articulação com a cultura. À medida que o contato com publicações acerca desta temática possibilitou a sua caracterização enquanto literatura centrada primordialmente na pauta identitária, sendo as identidades assunto estrangeiro ao campo psicanalítico, este artigo tem como objetivo tensionar o uso do conceito de identidade no seio da psicanálise denominada freudo-lacaniana, por meio da articulação entre as concepções psicanalíticas de identidade e a literatura de mulheres indígenas. Para este ensaio teórico foi privilegiada a escrita de Freud e Lacan acrescida de publicações atuais sobre a matéria em questão. As contribuições aqui arroladas favoreceram o acercamento do conteúdo em referência aos processos de constituição subjetiva firmados sobre a dialética eu-outro que, embora apresentados de formas distintas, não chegam a revelar oposição entre os dois autores. Seja em referência às imagos ou em articulação com o significante, suas abordagens acabaram por direcionar o debate rumo aos processos identificatórios, adotados como suporte hermenêutico para o diálogo com a literatura de mulheres indígenas, o que desvela a carência de uma problematização quanto aos atravessamentos que perpassam a busca por uma chancela identitária. Nestes termos, acredita-se que tensionar o campo psicanalítico rumo à construção de formas solidárias de laço social passa pelo reconhecimento de que a validação das identidades indígenas não se encerra na legitimação da sua alteridade, à medida que a sua identificação como outro sempre precipitou a sua aniquilação em favor de um suposto igual.
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