Participação de ofensores sexuais em intervenção psicossocial: Trajetória do medo à coragem
DOI:
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v24i3.e14225Palavras-chave:
processos terapêuticos, agressões sexuais, ofensor sexualResumo
O presente estudo tem como objetivo explorar as vivências e experiências de homens adultos autores de violência sexual enquanto participantes de uma intervenção psicossocial grupal. Esta intervenção visa à reflexão sobre a violência cometida contra crianças e adolescentes, é oferecida por instituições públicas de saúde, e seus integrantes são encaminhados pelas varas criminais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico. Buscou-se conhecer como ocorre o enfrentamento de estigmas sociais, bem como o engajamento à atividade terapêutica. O instrumento utilizado foi a observação e o registro de oito sessões grupais. Os participantes foram compostos por seis homens com idade média de 44 anos. A análise centrou-se nas observações de falas e comportamentos relativos às seguintes questões: Como foi sua experiência no grupo? Como foi participar de um grupo como este? Para a discussão, os resultados foram organizados em zonas de sentido: sentimentos; aprendizados; mudanças; e superação, sendo exemplificados com falas dos participantes. Os testemunhos analisados focaram na importância da construção de um ambiente terapêutico, sem julgamentos nem críticas, seguro e de reciprocidade, que possibilite uma discussão de temas que não são debatidos no cotidiano desses homens, além da ênfase na positividade da conversa grupal. O limite da pesquisa encontra-se na abordagem ao tema, que traz uma conversação plena de ansiedade, dúvida e medo de admissão de culpabilidade. Outro limite é o acesso a esses indivíduos. Além disso, há a particularidade de as autoras serem representantes do gênero feminino e estarem pesquisando em um contexto caracterizado por impasses característicos de ambientes extremamente machistas.
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