Sofrimento psíquico, adolescência e efeitos pandêmicos: Análise de atendimentos psicoterapêuticos em clínica-escola

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v24i3.e14194

Palavras-chave:

adolescencia, pandemia, sofrimento psíquico, psicoterapia

Resumo

Este trabalho é fruto de uma ampla pesquisa institucional sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental dos fluminenses. Temos como objetivo refletir sobre as diferentes expressões do sofrimento psíquico de adolescentes, vivenciadas antes e durante a pandemia de COVID-19, que fizeram psicoterapia no Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Para isso, realizou-se uma pesquisa documental, coletando dados de relatórios semestrais de atendimentos psicoterapêuticos psicanalíticos, realizados no SPA da PUC-RJ, nos anos de 2018, 2019, 2020 e 2021 (os dois últimos representando o período pandêmico). Analisaram-se relatórios de 23 adolescentes atendidos, na faixa etária dos 15 aos 18 anos de idade. Entre esses participantes, 14 eram mulheres (61%) e nove homens (39%). A maioria dos participantes tinha 18 anos completos (35%), seguido de participantes com 17 (26%) e 16 (26%) anos. Para análise dos documentos, utilizou-se o método de análise de conteúdo em sua vertente categorial. A fim de aprofundar a discussão dos dados, apresentamos a categoria sofrimento psíquico na adolescência e construção de sentido. Abordamos temas como experiência de morte de parentes, necessidade de novos relacionamentos afetivos, ansiedades ligadas ao valor da própria existência e estranhamento do corpo. Observamos também que o sofrimento psíquico foi menos possível de ser narrado durante o período pandêmico e que os jovens expressaram o sofrimento por meio da automutilação e de manifestações psicossomáticas. Dessa forma, compreende-se a importância do trabalho psicoterapêutico no auxílio dos adolescentes inseridos em contexto de múltiplas vulnerabilidades, possibilitando a expressão de seus sofrimentos e medos. Ademais, enfatiza-se a importância de direcionamento, atenção e cuidado, por parte dos familiares, aos jovens, oferecendo suporte diante dessa solidão, típica dessa fase.

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Biografia do Autor

Julia Goulart , Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro (2016-2020). Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, recebendo bolsa do CNPq (2021-2023). Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz (2023-2024).

Rebeca Nonato Machado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Doutora em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, com pós-doutorado pela mesma universidade. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e Especialista em Psicoterapia de Família e Casal. Atualmente é Professora Adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Professora e Supervisora do curso de especialização em Psicoterapia de Família e Casal do CCE (PUC-Rio).

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Publicado

02.12.2024

Como Citar

Gomes, J. G., & Machado, R. N. (2024). Sofrimento psíquico, adolescência e efeitos pandêmicos: Análise de atendimentos psicoterapêuticos em clínica-escola. Revista Subjetividades, 24(3), 1–11. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v24i3.e14194

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