Infâncias matáveis no Brasil Amefricano: reflexões sobre a ideologia do branqueamento e a morte de crianças negras no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v23i4.e13620

Palavras-chave:

infância, amefricanidade, necropolítica, psicanálise

Resumo

A partir da expansão diária do número de mortes de crianças, principalmente daquelas não-brancas no território nacional, este artigo se propõe a tensionar a construção dos lugares sociais em que certas infâncias perdem o direito à vida e ao futuro. Em conjunto de desenvolvimentos de Lélia Gonzalez, ligados à categoria da amefricanidade e sua negação na constituição do Brasil; e de elaborações de Ilana Katz, no que tange a definição das crianças-matáveis; buscamos construir uma rede de inteligibilidade para um conjunto de acontecimentos que se apresentam como uma faceta de puro horror no cenário brasileiro. Longe de trabalhar a morte de tais crianças na qualidade de um desvio à lei ou desfiguração do Estado, aquilo que averiguamos é sua característica estrutural e sua função na manutenção de certa lógica nacional. Isto é, a morte de crianças não brancas como perpetuação de uma lógica de Estado baseada na ideologia do branqueamento e na recusa de um futuro que não seja baseado nas ideias da supremacia branca no poder. Assim, infâncias não brancas seriam infâncias impossíveis na Améfrica Brasil

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Biografia do Autor

Ismael Leonardi Salaberry, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Doutorando em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Psicanálise pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bacharel em Psicologia pela Faculdade Anhanguera do Rio Grande e Especialista em Atendimento Clínico -  com Ênfase em Psicanálise pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Marta Regina de Leão D'Agord, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Graduação em Psicologia, Mestrado em Filosofia (1994) e Doutorado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2000) com estágio na França (Univ. Rennes I). É Professora titular no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordenadora do PPG em Psicanálise: Clínica e Cultura (2014-2018). Bolsista PQ Produtividade em Pesquisa (PQ/2). Líder do Grupo de pesquisa Laboratório de Psicanálise do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Participa do GT-ANPEPP: Psicanálise, Política e Cultura. Membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Editora-associada da seção Resenhas Bibliográficas da Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental. Desde 2008, desenvolve o Projeto Wikipedia Psicopatologia junto com estudantes de graduação em Psicologia. Pesquisa os aportes da Topologia, da Lógica e da Literatura para a Psicanálise e Psicopatologia. 

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Publicado

20.06.2023

Como Citar

Salaberry, I. L., & D’Agord, M. R. de L. (2023). Infâncias matáveis no Brasil Amefricano: reflexões sobre a ideologia do branqueamento e a morte de crianças negras no Brasil. Revista Subjetividades, 23(2), 1–13. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v23i4.e13620

Edição

Seção

Estudos Teóricos

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