Estrabismo Infantil: Reflexos na Construção do Olhar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i1.e11462

Palavras-chave:

relações mãe-criança, estrabismo, olhar, função especular, psicanálise

Resumo

A Psicanálise defende a importância do olhar como um canal propiciador às trocas relacionais pais-filho, uma construção afetiva que tem impactos à constituição subjetiva do bebê. O acolhimento ao filho também se dá pelo olhar materno e paterno, que banha seu corpo de afetos, permitindo que as necessidades infantis sejam atendidas ou não, conforme a interpretação dos agentes da especularização sobre os sinais do bebê. Do ponto de vista da mãe, o olhar do bebê evoca experiências afetivas em si mesma, como angústia, prazer e gratificação. Embora a função do olhar possa ser construída mesmo sem o suporte da visão, argumentamos que um desalinhamento visual pode impactar as trocas relacionais, alertando sobre a importância do olhar, enquanto construção, para a constituição subjetiva do bebê. Este artigo desenvolve reflexões sobre a construção do olhar em díades mãe-bebê no contexto do estrabismo infantil. Foram entrevistadas cinco mães de bebês estrábicos, com idade entre seis e doze meses. As mães se deram conta da alteração visual, sobretudo, na amamentação. Apesar do impacto psíquico, com sentimentos de culpa, frustração e ansiedade, a maioria não se paralisou diante da angústia e buscou apoio. Aparentemente tiveram pouco ou nenhum espaço de escuta junto aos profissionais de saúde, embora tenham sentido alívio da ansiedade a partir de consultas com esclarecimentos e possibilidades de tratamento. Ainda que esta pesquisa não indique elementos de cunho etiológico, o estrabismo pode envolver uma dimensão psíquica nas trocas iniciais que não deve ser negligenciada. Estimula-se que profissionais envolvidos com a primeira infância escutem as ambivalências maternas e paternas nas trocas com o bebê, buscando observar a qualidade da interação pelo olhar, que indica o clima afetivo do par/tríade, base para a integração infantil.

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Biografia do Autor

Erika Gomes dos Anjos, Instituto de Olhos do Recife (IOR)

Médica, Especialista em Oftalmologia (Conselho Brasileiro de Oftalmologia). Mestra em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Membro da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria e Estrabismo.

Marisa Amorim Sampaio, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)

Psicóloga. Pós-Doutorado em Psicologia Clínica. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

Maria do Carmo Camarotti, Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE)

Psicóloga e Psicanalista. Mestra em Saúde Materno Infantil. Membro da Coordination Internationale entre Psychotherapeutes Psychanalystes s’occupant de personnes avec Autisme e do Réseau International d’Etude sur la Psychopathologie et la Psychanalyse de L´Infans.

Ana Rodrigues Falbo, Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS)

Médica Pediatra. Doutora em Saúde Pública. Coordenadora do Comitê de Desenvolvimento Docente da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). Docente permanente do Mestrado Profissional em Educação para o Ensino na Área de Saúde.

Edilene Freire de Queiroz, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)

Psicóloga e Psicanalista. Doutorado em Psicologia Clínica e Pós-doutorado pela Universidade de Aix-Marseille I. Professora titular da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e membro do colegiado do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica.

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Publicado

29.04.2022

Como Citar

Anjos, E. G. dos ., Sampaio, M. A. ., Camarotti, M. do C., Falbo, A. R. ., & Queiroz, E. F. de . (2022). Estrabismo Infantil: Reflexos na Construção do Olhar. Revista Subjetividades, 22(1), e11462. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i1.e11462

Edição

Seção

Relatos de Pesquisa