Processo de Institucionalização de Sujeitos Presos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11060

Palavras-chave:

prisão, institucionalização, subjetividade, Psicologia e Justiça, exame criminológico.

Resumo

Esta pesquisa objetiva compreender o processo de institucionalização de sujeitos presos, identificando efeitos subjetivos e estratégias que utilizam no cumprimento da pena. Também contextualiza a atuação do profissional de Psicologia no sistema prisional brasileiro e o debate com a Justiça em torno do exame criminológico. O estudo é de abordagem genealógica, com uso de entrevistas e análise de documentos. Os participantes são três profissionais e três apenados de um presídio masculino localizado em um estado do Sul do Brasil. A análise evidenciou que a prisão, como instituição total, provoca uma ruptura com o mundo exterior e a realidade anterior dos apenados, e que abandonam sua identidade e assumem uma identidade institucional. São prescritas condutas que legitimam hierarquias e é compartilhada uma linguagem que assinala pertencimento ao grupo. Geralmente, a família é apoiadora, mas a distância entre ela e os presos é fonte de sofrimento para eles, que criam táticas de adaptação para a convivência institucional. A perspectiva de liberdade provoca sentimentos de alegria e medo, porque o estereótipo de ex-detento segue com eles após o cumprimento da pena. A Lei de Execução Penal prevê o exame criminológico a fim de estabelecer programa de individualização da pena e progressão de regime, porém o Conselho Federal de Psicologia se posiciona contrário a sua elaboração por psicólogos no que tange ao prognóstico criminológico de reincidência, à aferição de periculosidade e ao estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito-delinquente, e argumenta pelo acompanhamento do preso na perspectiva da humanização, superando o paradigma punitivo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Celso Francisco Tondin, Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Professor da Universidade Federal de São João del-Rei.

Camila Lorenzoni Cortina, Departamento de Administração Prisional do Estado de Santa Catarina

Mestra em Educação, pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó. Psicóloga da Secretaria de Estado da Administração Prisional e Socioeducativa do Estado de Santa Catarina.

Referências

Alvarenga Filho, J. R. (2015). Prisão, delinquência e subjetividade. ECOS - Estudos Contemporâneos da Subjetividade, 5(2), 161-170. Link

Barcinski, M., & Cúnico, S. D. (2014). Os efeitos (in)visibilizadores do cárcere: As contradições do sistema prisional. Psicologia, 28(2), 63-70. Link

Benelli, S. J. (2014). A lógica da internação: Instituições totais e disciplinares (des)educativas. Link

Carvalho, S. (2015). Antimanual de criminologia (6a ed., rev. e ampl.). São Paulo: Saraiva.

Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2011). Resolução nº 12, de 15 de maio de 2011. Regulamenta a atuação da(o) psicóloga(o) no âmbito do sistema prisional. Link

Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2015). Parecer técnico sobre a atuação do(a) psicólogo(a) no âmbito do sistema prisional e a suspensão da resolução CFP nº 012/2011. Link

Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2021). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) no sistema prisional (ed. rev.). Link

Crochík, J. L. (2006). Preconceito, indivíduo e cultura. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Deleuze, G. (1988). Foucault (C. S. Martins, Trad.). São Paulo: Brasiliense.

Esteca, A. C. P. (2010). Arquitetura penitenciária no Brasil: Análise das relações entre arquitetura e o sistema jurídico-penal. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, DF. Link

Faé, R. (2004). A genealogia em Foucault. Psicologia em Estudo, 9(3), 409-416. DOI: 10.1590/S1413-73722004000300009

Foucault, M. (1979). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal.

Foucault, M. (1996). A ordem do discurso: Aula inaugural no Collège de France. pronunciada em 2 de dezembro de 1970 (L. F. Almeida, Trad., 3a ed.). São Paulo: Edições Loyola. (Originalmente publicada em 1971)

Foucault, M. (1997). Resumo dos cursos do Collège de France (1970-1982). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Foucault, M. (2004). A hermenêutica do sujeito: Curso dado no Collège de France (1981-1982) (M. A. Fonseca & S. T. Muchail, Trad.). São Paulo, Martins Fontes.

Foucault, M. (2006). Prisões e revoltas nas prisões. In M. B. Motta (Org.), Ditos e escritos IV: Estratégia, poder-saber (V. L. A. Ribeiro, Trad., pp. 61-68). Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Foucault, M. (2009). Vigiar e punir: Nascimento da prisão (R. Ramalhete, Trad., 36a ed.). Petrópolis, RJ: Vozes. (Originalmente publicada em 1975)

Friedrich, L. N. (2014). Formas de controle e de individualização do preso: Uma via possível para compreensão do exame criminológico nas penitenciárias I e II de Foz do Iguaçu. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu, PR. Link

Goffman, E. (2013). Manicômios, prisões e conventos (D. M. Leite, Trad., 8a ed.). São Paulo: Perspectiva S.A. (Obra originalmente publicada em 1961)

Hulsman, L., & Celis, J. B. (1993). Penas perdidas: O sistema penal em questão (M. L. Karan, Trad.). Niterói: Luam Editora.

Junqueira, M. H. R., Souza, P. D. M., & Lima, V. A. A. (2015). A percepção de familiares de ex-apenados sobre a experiência do cárcere e do processo de inclusão social. Mnemosine, 11(2), 74-99. Link

Lei n° 7.210 de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Link

Lei nº 10.792, de 1º de dezembro de 2003. Altera a Lei nº 7.210, de 11 de junho de 1984 - Lei de Execução Penal e o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal e dá outras providências. Link

Ministério da Justiça e da Segurança Pública [MJSP]. Departamento Penitenciário Nacional [DPEN]. (2019). Levantamento nacional de informações penitenciárias, atualização junho de 2017. Brasília: MJSP: DEPEN. Link

Mirabete, J. F., & Fabbrini, R. N. (2018). Execução penal (14a ed.). São Paulo: Atlas.

Reishoffer, J. C., & Bicalho, P. P. G. (2017). Exame criminológico e psicologia: Crise e manutenção da disciplina carcerária. Fractal: Revista de Psicologia, 29(1), 34-44. DOI: 10.22409/1984-0292/v29i1/1430

Szymanski, H. (2004). Entrevista reflexiva: Um olhar psicológico sobre a entrevista em pesquisa. In H. Szymanski (Org.), A entrevista na pesquisa em educação: A prática reflexiva (pp. 9-61). Brasília: Liber Livro.

Silva, F. L. (2016). Sobre um novo conceito de prisionização: O fenômeno da assimilação prisional de acordo com a realidade prisional brasileira. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Direito Político e Econômico, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, SP. Link

Wacquant, L. (2008). O lugar da prisão na nova administração da pobreza (P. Miraglia & H. Mello Filho, Trad.). Novos Estudos CEBRAP, 80, 9-19. Link

Zaffaroni, E. R. (2017). Em busca das penas perdidas: A perda de legitimidade do sistema penal (V. R. Pedrosa & A. L. Conceição, Trad., 5a ed.). Rio de Janeiro: Revan.

Downloads

Publicado

15.09.2021

Como Citar

Tondin, C. F., & Cortina, C. L. (2021). Processo de Institucionalização de Sujeitos Presos. Revista Subjetividades, 21(2), Publicado online: 15/09/2021. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11060

Edição

Seção

Relatos de Pesquisa