Racismo, Violência e a Questão das Drogas no Brasil: Faces da Segregação
DOI:
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp2.e8975Palavras-chave:
saúde mental, internação compulsória, toxicomanias, crack, psicanálise.Resumo
Trata-se de um artigo teórico no qual refletimos acerca dos atuais acontecimentos no campo do cuidado às pessoas que usam álcool e outras drogas no Brasil, articulando-os aos temas do racismo, da violência e da segregação. A partir do referencial freudiano e lacaniano, contextualiza-se como a questão do uso de álcool e outras drogas tem sido tratada no âmbito das políticas públicas brasileiras, em especial a partir do que ficou conhecido como reforma psiquiátrica. Discute-se também o dispositivo da internação compulsória, tendo em vista a visibilidade que esse adquiriu nos últimos anos por vir sendo apresentado por alguns segmentos do Estado como alternativa voltada a determinados usuários, notadamente àqueles que vivem em regiões conhecidas como cracolândias. Tais discursos e práticas, que promovem a exclusão e o isolamento sociais, são associados à noção de choque de gozos enquanto princípio básico do racismo, o qual se articula à biopolítica contemporânea e ao discurso do capitalista. A partir dessas discussões, é pensado o lugar da psicanálise e da formação do analista no século XXI, seus desafios e desdobramentos, articulando-se clínica e política na proposição de uma direção possível para fazer frente à segregação contemporânea: sustentar o um a um, operando torções onde impera a lógica segregativa do todos contra um.Downloads
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