Jovens “Infratores”, o RAP e o Poetar: Deslizamentos da “Vida Nua” à “Vida Loka”
DOI:
https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v17i3.5573Palavras-chave:
adolescência, psicanálise, socioeducação, experiência, rap.Resumo
Este artigo apresenta o início de uma interlocução entre a Psicanálise e a socioeducação através da construção de uma Oficina de rap (Ritmos, Adolescência e Poesia) como dispositivo de pesquisaintervenção com adolescentes em conflito com a lei que se encontram em uma instituição de execução de medidas socioeducativas de privação de liberdade. Através do rap, buscamos extrair um pouco de “poesia” do cotidiano árido que compõe as vidas desses meninos. Ao escutar a dimensão do traumático da exclusão em suas narrativas, e contando com a potência da palavra e da música, buscamos um modo de evocar deslocamentos em algumas significações cristalizadas. O trabalho teve como sustentação teórico-metodológica a conjugação da psicanálise de Freud e Lacan articulada ao tema da experiência em Walter Benjamin. A partir da experiência nas Oficinas construímos algumas reflexões que ensejam o que temos proposto como diálogo da Psicanálise com a socioeducação. Nesse sentido, também ensaiamos uma reflexão acerca da posição desses sujeitos com o que Agamben conceitua sobre o “homo sacer” e a “vida nua”. As letras de rap enunciam o sofrimento que esses jovens sentem pela dimensão de suas vidas como “mera vida”. Como efeito do trabalho, entendemos o rap como um modo de poetar, que faz circular os significantes das vidas “ressacadas”, com o que relativiza o peso do lugar da exclusão. Deste modo, o artigo mostra a potência de se considerar o rap como um dispositivo passível de oferecer a esses meninos condições para que possam deslizar da “vida nua”, que lhes colocou na via do conflito com a lei, para tantas outras significações quanto a aventura com a polissemia da palavra e da música tenha condição de lhes propiciar.
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