A Repetição e o Par Mania-Depressão na Clínica Psicanalítica das Obesidades
Palavras-chave:
Psicopatologia Fundamental. Obesidade. Mania. Depressão. Prática-Clínica.Resumo
O reconhecimento da obesidade como doença, do ponto de vista biológico, é polêmico. No entanto, a OMS aponta inequivocamente o fato de ela ter se tornado um problema de saúde pública dos mais urgentes e inquietantes. O presente trabalho visa a discutir a obesidade a partir da psicopatologia fundamental, sem esquecer o caráter “multidimensional” do fenômeno. O “corpo opulento” é tratado aqui em sua articulação com a subjetividade, apontando formações culturais que tornam a obesidade uma expressão da fetichização do corpo na modernidade. As reflexões aqui apresentadas se fundam em observações feitas de atendimentos a pacientes com quadro físico de obesidade, que procuram o consultório de psicanálise. O trabalho recupera a noção do “agir do melancólico” para examinar o “agir da obesidade”, adotando a melancolia como um “paradigma” para a compreensão do sofrimento na obesidade. Nesta direção, é proposto um paralelo entre as manifestações depressivas num e no outro caso. Observações clínicas permitem levantar a hipótese de uma falha no par estrutural mania-depressão. A falha neste mecanismo de proteção parece impedir a regulação da angústia: diante da frustração de projetos idealizados e inatingíveis (o emagrecimento milagrosamente sonhado), a angústia é corporificada, e não simbolizada. Neste sentido, a obesidade se apresenta como um adoecimento narcísico. A falha no par mania-depressão tem o efeito de bloquear a elaboração e a possibilidade de simbolizar o conflito. A repetição no comer é o corpo da ausência, e o corpo opulento é a imagem invertida de um vazio. O trabalho examina ainda como o imaginário social, dentro de uma cultura de consumo e de injunção sobre o corpo, produz pressões sociais que convergem com a falha estrutural, promovendo o aprisionamento do sujeito no ciclo da obesidade.Downloads
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