Mal-estar na psiquiatria: o papel da mulher na instituição psiquiátrica
Palavras-chave:
mulheres, mal-estar, psiquiatria, capitalismo, ErosResumo
O presente artigo é uma reflexão sobre o papel questionador e revolucionário das mulheres, especialmente as histéricas, nas instituições psiquiátricas, dado seu atravessamento pelo discurso capitalista que, em aliança com o discurso da ciência, produz sérias consequências no campo da psiquiatria e na cultura moderna. Um desses efeitos é a dessubjetivação do sofrimento, localizando-o no corpo, para que seja tratável pelo saber médico. Por isso, tomamos a psiquiatria biológica como exemplo paradigmático do entrelaçamento desses dois discursos no campo da psiquiatria.Um outro efeito é a transformação de qualquer malestar em doença, para que possa ser medicável. Perdemos o direito de ficar tristes, ficamos deprimidos. O discurso capitalista é apontado por Lacan como aquele que foraclui a castração. Esta foraclusão corresponde ao apagamento da diferença, à dessexualização, à massificação que vivemos em nossa cultura. A foraclusão da castração corresponde a foraclusão do laço social. É nesse ponto que as histéricas têm seu papel revolucionário, pois o discurso da histérica é o que pode mais diretamente questionar o do capitalismo, pois aponta para a castração e não pode existir fora do laço social. As histéricas desafiam a psiquiatria biológica também com seu corpo, pois produzem o sintoma no “corpo erógeno” e não no “corpo biológico”. Ao foracluir a castração, o discurso do capitalista foraclui também as “coisas do amor”. A erotização, a valorização do laço social e das “coisas do amor” é o ponto comum das histéricas com as mulheres. Freud delega à mulher o papel de Eros na cultura e lhe dá a condição de ser o “antídoto contra a massa”. Não estariam as mulheres, em especial as histéricas, encarnando o limite de impossibilidade de tratar do humano em uma perspectiva dessexualizada? Não estariam estes sujeitos berrando com seu inconsciente o fracasso da pretenção de homogenização, apagamento das diferenças? Não teriam as mulheres e as histéricas, com seu “antídoto contra a massa”, uma função de resistência a essa tendência de dessubjetivação operado pela psquiatria biológica? É o que pretendemos articular nesse pequeno ensaio.Downloads
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