Feminilidade como Máscara: Uma Leitura Psicanalítica de Cersei em Game of Thrones

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i3.e10435

Palavras-chave:

psicanálise, feminilidade, interpretação

Resumo

Este trabalho teve como objetivo analisar os sentidos possíveis para o feminino a partir da personagem Cersei do seriado Game of Thrones. Utilizou-se o método psicanalítico, através das técnicas de observação psicanalítica, diário clínico, leitura dirigida pela escuta e transferência do pesquisador ao texto. Cersei se apresenta como mascarada, uma vez que se recobre com as representações da mãe e da puta. A máscara feminina pode ser entendida como um signo fálico que confere valor e aceitação em uma sociedade falocêntrica e patriarcal. A máscara estaria ancorada na performance, e não na singularidade e no reconhecimento de si. Assim, na medida em que as mulheres lançam mão desse artifício para se estabelecerem, reinvestem o mesmo sistema que significa o feminino enquanto depreciado. O feminino é abordado a partir da dicotomia castrado/não castrado, revelando um funcionamento fálico-narcísico, de horror à castração e repúdio à feminilidade. O registro psíquico da feminilidade confronta-se com o registro fálico, escancarando inscrições pulsionais primitivas, que muitas vezes se encontram escondidas por defesas onipotentes. O recurso da violência se coloca como uma reação defensiva primitiva frente à realidade da castração, cujo alvo encarna no ser castrado: sujeitos, homens e mulheres, atacam as mulheres visando destruir sua própria feminilidade. A experiência feminina perpassa a diversidade, uma vez que o processo de se tornar mulher revela inúmeras possibilidades de exercício da mulheridade. Dessa forma, a busca da identidade feminina revela um descentramento do sujeito que busca um novo modo de estar no mundo, através da admissão da feminilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Juliane de Oliveira Silva, Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Docente do curso de Graduação em Psicologia na Faculdade Anhanguera. Membro efetivo do Centro de Estudos e Eventos Psicanalíticos de Uberlândia (CEEPU).

Luiz Carlos Avelino da Silva, Universidade de São Paulo (USP)

Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de Brasília (UNB) e Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP).

Referências

Andrade, C. D. (2013). Alguma Poesia. Companhia das Letras. (Originalmente publicado em 1930)

Almeida, A. M. M. (2012). Feminilidade: Caminho de subjetivação. Estudos de Psicanálise, (38), 29-44. Link

Alonso, S. L. (2002). Conferência de abertura: Interrogando o feminino. In S. L. Alonso, A. C. Gurfinkel, & D. M. Breyton (Orgs), Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo (pp. 13-29). Escutas.

Alonso, S. L. (2011). O tempo, a escuta, o feminino: Reflexões. Casa do Psicólogo.

Alonso, S. L., & Fuks, M. (2012). Histeria. Casa do Psicólogo.

Araújo, M. L. M. (1999). A construção histórica da sexualidade. In M. Ribeiro (Org.), O prazer e o pensar (vol. 1, pp. 13-36). Ed. Gente

Aulagnier-Spairani, P. (1990). Remarques sur la féminité et ses avatars. In P. Aulagnier-Spairani. Le désir et la perversión (pp. 53-79). Éditions du Seuil.

Benioff, D. (Roteirista), Weiss, D. B. (Roteirista), & Kirk, B. (Diretor). (2011, 1 de maio). Lorde Snow (Temporada 1, Episódio 3) [episódio de série de TV]. In D. Benioff, & D. B. Weiss (Produtores), Game of Thrones [série de TV]. HBO.

Benioff, D. (Roteirista), Weiss, D. B. (Roteirista), & Nutter, D. (Diretor). (2012, 13 de maio). Um homem sem honra (Temporada 2, Episódio 7) [episódio de série de TV]. In D. Benioff, & D. B. Weiss (Produtores), Game of Thrones [série de TV]. HBO.

Benioff, D. (Roteirista), Weiss, D. B. (Roteirista), & Graves, A. (Diretor). (2013, 21 de março). E agora sua patrulha terminou (Temporada 3, Episódio 4) [episódio de série de TV]. In D. Benioff, & D. B. Weiss (Produtores), Game of Thrones [série de TV]. HBO.

Birman, J. (1999). Cartografias do feminino. Editora 34.

Birman, J. (2000). A feiura, forma de horror no neonazismo. In G. Bartucci (Org.), Psicanálise, cinema e estética de subjetivação (pp. 242-243). Imago.

Birman, J. (2007). Laços e desenlaces na contemporaneidade. Jornal de Psicanálise, 40(72), 47-62. Link

Branco, L. C. & Brandão, R. S. (2004). A mulher escrita. Lamparina.

Chnaiderman, M. (1989). Ensaios de psicanálise e semiótica. Escuta.

Donadeli, L. M. (2017). O feminino na escrita de Clarice Lispector: A via crucis do corpo [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Uberlândia]. UFU: Repositório Institucional UFU. Link

Espenson, J. (Roteirista), Benioff, D. (Roteirista), Weiss, D. B. (Roteirista), & Minahan, D. (Diretor). (2011, 22 de maio). Uma coroa dourada (Temporada 1, Episódio 6) [episódio de série de TV]. In D. Benioff, & D. B. Weiss (Produtores), Game of Thrones [série de TV]. HBO.

Freud, S. (1996a). Personagens psicopáticos no palco. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7). Imago. (Originalmente publicado em 1942)

Freud, S. (1996b). Escritores criativos e devaneio. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 9). Imago. (Originalmente publicado em 1908)

Freud, S. (1996c). Sobre o narcisismo: Uma introdução. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 14). Imago. (Originalmente publicado em 1914)

Freud, S. (1996d). Observações sobre a teoria e prática da interpretação de sonhos. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19). Imago. (Originalmente publicado em 1923)

Freud, S. (1996e). Sexualidade feminina. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 21). Imago. (Originalmente publicado em 1931)

Freud, S. (1996f). Conferência XXXIII – Feminilidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 22). Imago. (Originalmente publicado em 1933)

Freud, S. (1996g). Análise terminável e interminável. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 23). Imago. (Originalmente publicado em 1937)

Gonçalves, C. S. (2002). O feminino, a vergonha e a doença de Virgínia Woolf. In S. L. Alonso, A. C. Gurfinkel & D. M. Breyton (Orgs), Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo (pp. 55-63). Escutas.

Harris, A. (2019). Fluidez de gênero e gênero como força interpelativa: Discussão com Jacqueline Rose. Revista Brasileira de Psicanálise, 53(2), 67-83. Link

Hill, D. (Roteirista), & Podeswa, J. (Diretor). (2016, 1 de maio). Lar (Temporada 6, Episódio 2) [episódio de série de TV]. In D. Benioff, & D. B. Weiss (Produtores), Game of Thrones [série de TV]. HBO.

Horney, K. (1966). Psicologia feminina. In K. Horney, Novos Rumos na Psicanálise (2ª ed). Editora Civilização Brasileira.

Holovko, C. S. (2008). Editorial a convite: O feminino. Revista Brasileira de Psicanálise, 42(4), 13-14. Link

Iribarry, I. N. (2003). O que é pesquisa psicanalítica. Revista Ágora, 6(1), 115-138. DOI: 10.1590/S1516-14982003000100007

Kehl, M. R. (2008). Deslocamentos do feminino. Imago.

Martin, G. R. R. (2012). A tormenta de espadas (As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol. 3). Leya.

Martin, G. R. R (Roteirista), & Marshall, N. (Diretor). (2012, 27 de maio). Água Negra (Temporada 2, Episódio 9) [episódio de série de TV]. In D. Benioff, & D. B. Weiss (Produtores), Game of Thrones [série de TV]. HBO.

Menezes, L. S. (2012). Desamparo (Coleção Clínica Psicanalítica). Casa do Psicólogo.

Neri, R. (2005). A psicanálise e o feminino: Um horizonte da modernidade. Civilização Brasileira.

Oliveira, H. M. (2016). O “nostálgico” e o “contemporâneo”: Algumas considerações sobre o lugar do psicanalista no século XXI. Cadernos de Psicanálise (CPRJ), 38(34), 25-45. Link

Porchat, P. (2014). Ato performativo e desconstrução: O gênero em Judith Butler. In P. E. S Ambra & N. Silva Junior (Orgs), Histeria e Gênero. NVersos.

Rivière, J. (2019). Womanliness as masquerade. In R. Grigg (Org.), Female sexuality: The early psychoanalytic controversies (Chapter 12). Taylor & Francis. 10.4324/9780429474675

Santa-Cruz, M. A. (2002). O paradoxo da saída feminina na cultura contemporânea. In S. L. Alonso, A. C. Gurfinkel & D. M. Breyton (Orgs), Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo (pp. 33-43). Escutas.

Scappaticci, A. L. M. S. (2018). Uma janela com vista. In C. Castelo Filho (Org.), Sobre o feminino: Reflexões psicanalíticas. Blucher.

Stoller, R. (1968). A further contribution to the study of gender identity. Internacional Journal of Psycho-Analysis, 49, 220-226. Link

Downloads

Publicado

29.01.2023

Como Citar

Silva, J. de O. ., & Silva, L. C. A. da. (2023). Feminilidade como Máscara: Uma Leitura Psicanalítica de Cersei em Game of Thrones. Revista Subjetividades, 22(3), e10435. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i3.e10435

Edição

Seção

Relatos de Pesquisa

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)